sábado, 11 de abril de 2015

REVIVESCÊNCIA ARTÍSTICA: O centenário da chegada do pintor José de Paula Barros à São Luís.

“– Era segunda-feira, 5 de abril de 1915, um dia comum para a população da velha cidade de São Luís, a mesma rotina, o mesmo clima, a mesma paisagem. Da Praça João Lisboa era possível ouvir aquele som característico de apitos dos vapores, vindo da direção do porto, um dos locais onde a vida era mais intensa na cidade, com constantes embarques e desembarques de pessoas e produtos. Naquele dia, a rotina não era diferente, havia uma movimentação frenética de passageiros e embarcadiços transportando todo tipo de mercadorias e bagagens.
Em meio àquela agitação toda, um senhor alto, magro, bem vestido, recomendava aos embarcadiços para terem cuidado com suas bagagens. O seu nome: José de Paula Barros, ou simplesmente Paula Barros. Pintor, desenhista, decorador, arquiteto e fotógrafo. Ele acabara de chegar de Belém, no paquete Pará.”

José de Paula Barros



Desse modo é narrada a chegada do artista Paula Barros ao Maranhão no livro Revivescência, obra inédita do autor deste artigo, que resgata do esquecimento o mais importante precursor do ensino e produção artística na São Luís das primeiras décadas do século XX. 
 José de Paula Barros (c.1883-1926) era cearense, mas chegou ao Maranhão, procedente de Belém do Pará. Ele era um artista renomado, havia estudado em Paris, e em Fortaleza havia participado da decoração interna do Teatro José de Alencar. Em São Luís, criou ainda em 1915 uma escola de desenho e pintura que funcionava no prédio que atualmente é sede da Academia Maranhense de Letras. 
antiga sede da Escola de Desenho e Pintura de José de Paula Barros (atual sede da Academia Maranhense de Letras)

Posteriormente, em 1922, ele participou da fundação da Escola de Belas Artes do Maranhão, onde coordenava e ensinava desenho e pintura.
Primeira sede da Escola de Belas Artes do Maranhão e do Casino Maranhense. 

Na São Luís das primeiras décadas do século XX, Paula Barros teve relevante importância na formação de artistas plásticos. Foram seus alunos: Arthur Marinho, Evandro Rocha, Levi Damasceno, Rubens Damasceno, Hilton Aranha, Telésforo de Moraes Rêgo Filho, Amena Varella, Beatriz Varella e vários outros jovens que buscaram formação artística na sua escola, no seu ateliê ou na Escola de Belas Artes.

Retrato de Achiles Lisboa - foto crayon de José de Paula Barros
Retrato de Marcelino Marchado - foto crayon de José de Paula Barros
 Além do ensino, ele produziu dezenas de obras de arte, principalmente retratos a óleo, crayon e foto-crayon; e abriu duas lojas de material artístico: Moldura Elegante e Casa Paula Barros.
Casa Paula Barros (ficava localizada na Rua do Sol. Foi demolida e no seu lugar construíram o Edifício Colonial)

Quando chegou ao Maranhão, Paula Barros era divorciado de Francisca “Jacy” Leal de Miranda com quem teve cinco filhos: Neópolo, Murilo, Rembrandt, Rubens e Rafael, os quatro últimos receberam nomes de artistas famosos da História da arte devido à paixão que ele cultivava pela pintura.
Amena Varella (Amina Paula Barros)
Em 1917, ele casou com a sua ex-aluna Amena Carmem Varella (26/03/1897 – 26/01/1953), que anos depois adotaria o nome artístico “Amina Paula Barros”. Tiveram quatro filhas: Maria de Lourdes, Zilda, Maria Frassinetti e Maria de Nazareth.
Bandeja decorada internamente na técnica Louzimana

José de Paula Barros faleceu precocemente, aos 27 de fevereiro de 1926, vítima de uma crise de enfisema pulmonar. Quanto à Amena, esta também se tornou professora, artista e comerciante; criou uma técnica de pintura intitulada LOUZIMANA (nome formado a partir das letras/sílabas iniciais dos nomes das suas quatro filhas: Lourdes, Zilda, Maria Frassinetti e Nazareth.); 
fundou a Escola Paula Barros; realizou exposições em diversas partes do país; e é considerada a primeira mulher a ter destaque no panorama artístico maranhense.
Foz do Rio Anil - José de Paula Barros


Foz do Rio Anil - Amina Paula Barros



 Hoje, 5 de abril de 2015, não deveria ser um dia comum para a população da velha cidade de São Luís, e sim um dia para lembrarmos do centenário da chegada de José de Paula Barros por toda a sua contribuição para o panorama artístico maranhense no século XX. No entanto, ele e Amena Varella são lembrados apenas por seus descendentes e pelos poucos estudiosos da história da arte no Maranhão.

(Artigo publicado na edição do dia 05/04/2015 do jornal O Estado do Maranhão/Alternativo)