“– Era segunda-feira, 5 de abril de
1915, um dia comum para a população da velha cidade de São Luís, a mesma
rotina, o mesmo clima, a mesma paisagem. Da Praça João Lisboa era possível
ouvir aquele som característico de apitos dos vapores, vindo da direção do
porto, um dos locais onde a vida era mais intensa na cidade, com constantes
embarques e desembarques de pessoas e produtos. Naquele dia, a rotina não era
diferente, havia uma movimentação frenética de passageiros e embarcadiços
transportando todo tipo de mercadorias e bagagens.
Em meio àquela agitação toda, um senhor
alto, magro, bem vestido, recomendava aos embarcadiços para terem cuidado com
suas bagagens. O seu nome: José de Paula Barros, ou simplesmente Paula Barros.
Pintor, desenhista, decorador, arquiteto e fotógrafo. Ele acabara de chegar de
Belém, no paquete Pará.”
José de Paula Barros |
Desse
modo é narrada a chegada do artista Paula Barros ao Maranhão no livro
Revivescência, obra inédita do autor deste artigo, que resgata do
esquecimento o mais importante precursor do ensino e produção artística na São
Luís das primeiras décadas do século XX.
José de Paula Barros
(c.1883-1926) era cearense, mas chegou ao Maranhão, procedente de Belém do
Pará. Ele era um artista renomado, havia estudado em Paris, e em Fortaleza
havia participado da decoração interna do Teatro José de Alencar. Em São Luís, criou
ainda em 1915 uma escola de desenho e pintura que funcionava no prédio que atualmente
é sede da Academia Maranhense de Letras.
antiga sede da Escola de Desenho e Pintura de José de Paula Barros (atual sede da Academia Maranhense de Letras) |
Posteriormente, em 1922, ele
participou da fundação da Escola de Belas Artes do Maranhão, onde coordenava e
ensinava desenho e pintura.
Primeira sede da Escola de Belas Artes do Maranhão e do Casino Maranhense. |
Na
São Luís das primeiras décadas do século XX, Paula Barros teve relevante importância
na formação de artistas plásticos. Foram seus alunos: Arthur Marinho, Evandro Rocha, Levi Damasceno, Rubens Damasceno, Hilton Aranha, Telésforo de Moraes Rêgo
Filho, Amena Varella, Beatriz Varella e vários
outros jovens que buscaram formação artística na sua escola, no seu ateliê ou
na Escola de Belas Artes.
Retrato de Achiles Lisboa - foto crayon de José de Paula Barros |
Além do ensino, ele produziu dezenas de obras de
arte, principalmente retratos a óleo, crayon e foto-crayon; e abriu duas lojas
de material artístico: Moldura Elegante e Casa Paula Barros.
Casa Paula Barros (ficava localizada na Rua do Sol. Foi demolida e no seu lugar construíram o Edifício Colonial) |
Quando
chegou ao Maranhão, Paula Barros era divorciado de Francisca “Jacy” Leal de
Miranda com quem teve cinco filhos: Neópolo, Murilo, Rembrandt, Rubens e
Rafael, os quatro últimos receberam nomes de artistas famosos da História da arte
devido à paixão que ele cultivava pela pintura.
Amena Varella (Amina Paula Barros) |
Em
1917, ele casou com a sua ex-aluna Amena Carmem Varella (26/03/1897 –
26/01/1953), que anos depois adotaria o nome artístico “Amina Paula Barros”.
Tiveram quatro filhas: Maria de Lourdes, Zilda, Maria Frassinetti e Maria de
Nazareth.
Bandeja decorada internamente na técnica Louzimana |
José
de Paula Barros faleceu precocemente, aos 27 de fevereiro de 1926, vítima de
uma crise de enfisema pulmonar. Quanto à Amena, esta também se tornou
professora, artista e comerciante; criou uma técnica de pintura intitulada
LOUZIMANA (nome formado a partir das letras/sílabas iniciais dos nomes das suas
quatro filhas: Lourdes, Zilda, Maria Frassinetti e Nazareth.);
fundou a Escola Paula Barros; realizou exposições em diversas partes do país; e
é considerada a primeira mulher a ter destaque no panorama artístico maranhense.
Foz do Rio Anil - Amina Paula Barros |
Hoje, 5 de abril de 2015, não deveria ser um
dia comum para a população da velha cidade de São Luís, e sim um dia para
lembrarmos do centenário da chegada de José de Paula Barros por toda a sua
contribuição para o panorama artístico maranhense no século XX. No entanto, ele
e Amena Varella são lembrados apenas por seus descendentes e pelos poucos estudiosos
da história da arte no Maranhão.
(Artigo publicado na edição do dia 05/04/2015 do jornal O Estado do Maranhão/Alternativo)