sexta-feira, 31 de maio de 2013

ARTISTAS OITOCENTISTAS MARANHENSES

A presença de artistas europeus em São Luís, durante a segunda metade do século XIX, não trouxe grandes contribuições para o desenvolvimento do panorama artístico local da época, no entanto, contribuiu para a formação de vários artistas maranhenses. Os principais nomes dessa geração foram:
José Maria Bílio Júnior, Francisco Raimundo Diniz, João Manoel da Cunha, Horácio Tribuzi, Francisco Peixoto Franco de Sá, Aluísio Tancredo Belo de Azevedo e João Afonso do Nascimento.

No século XIX, os artistas estrangeiros e os maranhenses, embora formassem um número razoável, nunca formaram uma escola de belas artes em São Luís. E sequer havia uma galeria específica para exposições artísticas, que normalmente eram realizadas em lojas, armazéns, ateliês e instituições de ensino.
O número de exposições coletivas citadas pelos jornais da época, também foi bem diminuto, o que indica, supostamente, certo distanciamento entre eles. As exposições mais significativas foram:
-         1ª Exposição Provincial Agrícola, Industrial e de Obras de arte, realizada na Casa dos Educandos Artífices, em 1860;
-          2ª Exposição Provincial Agrícola, Industrial e de Obras de arte, realizada na Casa dos Educandos Artífices, em 1861;
-          3ª Exposição Provincial Agrícola, Industrial e de Obras de arte, realizada na Casa dos Educandos Artífices, em 1866;
-          Exposição organizada por Domingos Tribuzi e Horácio Tribuzi, com trabalhos de seus alunos, em 1872;
-         2ª Festa Popular do Trabalho, realizada na casa dos Educandos Artífices, 1872;
-         1ª Exposição Industrial Maranhense, realizada na Casa dos Educandos Artífices, em 1878.[1]

É importante citar que das exposições acima, a única específica de arte foi a organizada por Domingos Tribuzi e Horácio Tribuzi (1872), em todas as outras, as obras de arte eram expostas ao lado de produtos agrícolas, industriais, manufaturas, livros e vários outros que compunham as chamadas exposições agrícolas e industriais.  
Existem ainda registros de outras exposições realizadas naquele século, porém, sem relevância para a história da arte maranhense.

Naquela época, os artistas buscavam empregos nos estabelecimentos de ensino, porque as práticas artísticas faziam parte do currículo escolar, e eles ministravam aulas de desenho e pintura.
Outro mercado importante era a produção de retratos, gênero bastante encomendado, principalmente, das personalidades falecidas, de D. Pedro II, ou de figuras da elite local.   

 Assim como em outros tempos, não havia incentivos por parte do governo para o campo das artes, exceto algumas pensões para estudos na Europa.
Assim como governo, as instituições particulares também não eram muito incentivadoras ou mesmo consumidoras de obras de artes. Mas esporadicamente adquiriam um ou outro trabalho artístico.

Mas havia exceções como o Hospital Português[2], que contratava artistas para retratarem figuras ilustres que prestavam significativos serviços à Sociedade Humanitária. Tal acervo ficou exposto durante muitos anos no seu Salão Nobre[3]
No início do século XX, o Governo do Estado, adquiriu da viúva de Arthur Azevedo, as obras que pertenceram a ele, uma coleção totalizando 23.119 peças entre gravuras, pinturas, livros e esculturas.



[1] Fonte: CANTANHEDE, João Carlos Pimentel. Veredas Estéticas – fragmentos para uma história social das artes visuais no Maranhão. São Luís: edição do autor, 2008.
[2] Hospital Português (de São João de Deus) da Real Sociedade Humanitária 1º de Dezembro, inaugurado em 31 de outubro de 1869.
[3] Segundo informações da pesquisadora Franciane Lins, esse acervo foi transferido para o Consulado Português. 

segunda-feira, 6 de maio de 2013

ARTE OITOCENTISTA MARANHENSE - artistas estrangeiros


Joaquim Cândido Guillobel (Lisboa, 1787 – Rio de Janeiro, 1859). Militar, desenhista, arquiteto, engenheiro, e professor. Foi um primeiros artistas vindos a São Luís. Chegou em 1819, na companhia do Tenente-Coronel do Real Corpo de Engenheiros, Antônio Bernardino Pereira do Lago. Juntos fizeram o levantamento topográfico da província do Maranhão, cabendo a Guillobel a função de desenhar os mapas e plantas.
Em São Luís, ele ensinou desenho e pintura, sendo o precursor neste tipo de ensino na capital maranhense. Executou uma série de aquarelas representando figuras típicas do Maranhão.

                                                      Senhora conduzida por escravos (cerca de 1820) - Joaquim Candido Guillobel


Posterior a Guillobel, chegou a São Luís, o italiano Domingos Tribuzi (Roma, c. 1810 – Belém, 1880), pintor, desenhista e professor. Foi possivelmente o artista que mais contribuiu para o panorama artístico ludovicense no século XIX, através do ensino, da produção e organização de exposições.
Domingos Tribuzi foi primeiro artista a sistematizar um ensino de artes plásticas em São Luís. Sendo, o mestre da primeira geração de pintores maranhenses no século XIX. Submetendo-se a concurso público, foi aprovado e nomeado professor substituto (e posteriormente titular) de desenho do Liceu Maranhense.



Além de Guillobel e Tribuzzi, vários outros artistas estrangeiros tiveram destaque no panorama artístico ludovicense, dos quais merecem destaque:
O português José de Albuquerque Cardoso Homem, que chegou a São Luís em 1847. Tornou-se professor de escultura na Casa dos Educandos Artífices.[1] Com habilidades em arquitetura, pintura, desenho e escultura, Cardoso Homem teve como seu principal registro artístico no Maranhão, a reforma do Teatro União em 1852 (atual Teatro Arthur Azevedo), com auxílio de seus melhores alunos da Casa dos Educandos Artífices que produziram esculturas em gesso representando alegorias das musas das artes, além de carrancas e grinaldas.
O italiano, Joseph Leon Righini (Turim, c. 1820 – Belém, 1884). Pintor, desenhista, gravador, cenógrafo e fotógrafo. Formado na Academia de Belas-Artes de Turim. Como citado anteriormente, veio a São Luís como cenógrafo de uma companhia lírica italiana, em 1856. É autor de importantes vistas de São Luís.






[1] - Instituição criada em 1841, serviu de internato destinado à formação profissional e escolar de garotos órfãos e carentes. Possuía especializações em música, escultura, desenho técnico e oficinas de espingardeiros, sapateiros, alfaiates, torneiros, carpinteiros e marceneiros, além de alfabetização. Funcionava no antigo Armazém da pólvora, num largo do Caminho Grande (atual Praça da República, no bairro do Diamante.

domingo, 5 de maio de 2013

AS ARTES VISUAIS EM SÃO LUÍS: Parte II – a arte colonial maranhense


Posterior à arte tupinambá em São Luís, temos a arte sacra católica, manifestada na arquitetura das igrejas e conventos, nas pinturas de forro, nos altares, e principalmente na imaginária. A qual por influência dos artesãos índios, negros e mestiços, adquiriu características próprias: cabelos enrolados e caídos sobre os ombros, bochechas grandes, roliças e arredondadas, proporções atarracadas, olhos amendoados, rosto largo, orelhas cobertas pelos cabelos e pescoço grosso.
Um dos poucos artistas conhecidos do período colonial não pertencente ao campo da arte sacra foi José Luiz da Rocha (1744 – primeiro quartel do século XIX). Sobre esse artista e as suas produções, Coutinho comenta:

Para que seu nome ficasse, como agora fica registrado nas páginas de nossa história, basta que alguém contemple com os olhos e espírito de artista as belezas das fontes das Pedras e do Ribeirão, nascidas, em sua prancha de desenhista, de sua maestria como construtor civil. A primeira, a das Pedras [...], não era, nem poderia ser, nenhuma obra de arte, senão uma bica a jorrar da encosta da ladeira da rua das Crioulas, que descia no rumo do atual Portinho. Mas, a frontaria e carrancas ali até hoje existentes nasceram das mãos do desenhista e das orientações do mestre-de-obras notável, o pardo-fidalgo José Luiz da Rocha.[1]

 Ele era natural de São Luís. Mulato, filho de um português com uma negra. Desempenhou as atividades de pintor, desenhista, arquiteto, engenheiro e militar, chegando ao posto de coronel. As suas obras mais significativas foram: reforma da Fonte das Pedras e construção da Fonte do Ribeirão.
Mas, a arte em São Luís só toma impulso, efetivamente, a partir do século XIX. Época com grande fluxo de viagens entre São Luís e a Europa, de onde vinham companhias líricas para se apresentarem no Teatro, e também artistas, a maioria deles apenas com passagens rápidas.
Tais artistas buscam novos mercados, visto que a maioria enfrentava um mercado saturado, e não conseguia se estabelecer em seus países pela qualidade razoável de seus trabalhos, ou também por, normalmente, não estarem adaptados aos novos estilos e padrões da arte oitocentista europeia;
Também contribuía para a vinda deles, o fato de São Luís e outras cidades brasileiras como Rio de Janeiro, Recife e Salvador possuírem um crescente mercado consumidor ansioso por copiar hábitos e costumes europeus, principalmente a partir da chegada da família real portuguesa ao Brasil em 1808.
Por São Luís também passaram as chamadas expedições científicas e missões artísticas, das quais normalmente faziam parte, artistas com finalidade de fazerem os registros visuais das pesquisas.



[1] Coutinho, Milson. Fidalgos e barões: uma história da nobiliarquia luso-maranhense. São Luís: Instituto Geia, 2005, p. 171.

AS ARTES VISUAIS EM SÃO LUÍS: Parte I – a produção tupinambá


Os primeiros artistas[1] de São Luís foram os Tupinambás, autores de produções em cerâmica, pintura corporal, plumária, música, trançados, tecelagem e algumas outras expressões artísticas. Essas produções de natureza estética, funcional e simbólica pertenciam aos seus universos naturais e sobrenaturais. 
Uma arte bastante desenvolvida pelos tupinambás era a plumária, confeccionada e usada, principalmente, pelos homens nos momentos festivos: dias de cauim, matança de inimigos, partida para a guerra, furação de lábio de crianças, e demais eventos solenes.
Os adornos plumários eram produzidos com diversas penas coloridas organizadas de maneira simétrica, e tecidos na parte interna com fios de algodão, semelhante à trama de uma rede de pescar. O mais belo desses adornos era o Assoiave [Açoiába], produzidos com penas de guará e algumas outras. Possivelmente, era utilizado somente em momentos festivos e solenes.
Bem expressivas também eram as suas pinturas corporais, executadas pelas mulheres sobre si e também sobre os demais indivíduos tupinambás. Pintam o rosto e o corpo, na convicção de se embelezarem. “Trazem alguns a face rajada de vermelho e negro; outros pintam apenas uma metade do corpo e do rosto e deixam a outra metade com sua côr natural.”[2]
Outros pintam “o corpo inteiro de figuras, da cabeça aos joelhos e assim ficam como se estivessem vestidos com uma roupa de Pantalon, de cetim prêto estampado. Quanto às mãos e às pernas, pintam-nas com o suco do genipapo.”[3]
Mas, “nem sempre andam pintados, e sim quando querem, e uns mais que os outros, e principalmente as raparigas mais do que todos.”[4] Era portanto uma arte que caracterizava momentos específicos e também indivíduos por sexo e idade.
Um dos momentos mais significativos para os Tupinambás “exibirem” a sua arte eram guerras, para as quais, eles assim se adornavam:

Para a cabeça usam de uma peruca ou cabeleira de penas de cores vermelhas, amarelas, verde-gaio e violetas, que prendem aos cabelos com uma espécie de cola ou grude.
Enfeitam a testa com grandes penas de araras e outros pássaros semelhantes, de cores variadas e dispostas à maneira de mitra, que amarram atrás da cabeça. Nos braços atam braceletes também de penas de diversas cores, tecidas com fio de algodão, semelhante à mitra de que acabamos de falar. [5]

Colocavam na altura dos rins outro adorno plumário, o qual formava “uma roda de penas de cauda de ema presa por dois fios de algodão tintos de vermelho, cruzando-se pelos ombros [...], de sorte que aos vê-los emplumados, dir-se-ia que são emas que só tem penas nestas três partes do corpo”.[6] 



[1] Esse termo não é aqui utilizado como categoria profissional, e sim para se referir a qualquer indivíduo que produza objetos estéticos para os mais diversos momentos e finalidades.
[2] D’ABBEVILLE, Claude. História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão. São Paulo: Siciliano, 2002, p. 262.
[3] Id.Ibid., p. 262.
[4] Id. Ibid., p 262.
[5] D’EVREUX, Yves. Viagem ao norte do Brasil: feita nos anos de 1613 a 1614; com colaboração de Ferdinand Denis; traduzida por César Augusto Marques. São Paulo: Siciliano, 2002, p. 78.
[6] Id. Ibid., p. 79.

sábado, 4 de maio de 2013



O livro “CIDADE E A MEMÓRIA: AS REPRESENTAÇÕES ARTÍSTICAS FORMANDO A IDENTIDADE LUDOVICENSE”, de autoria de Raimunda Fortes e João Carlos Pimentel Cantanhede, analisa o olhar artístico sobre a cidade de São Luís ao longo da sua história.
 Nele, os autores discorrem sobre a relação arte e cidade, nos aspectos urbanos, sociais e naturais tomando como registro de memória e identidade as produções literárias e artísticas. Autores como Spix e Martius, Gaioso e Koster são tomados como produtores de imagens literárias de São Luís.
As obras visuais escolhidas são representativas de fatos e épocas distintas da história de São Luís, partindo do século XVII: Fundação da Cidade, vistas panorâmicas e cartografia da cidade e de seus arredores; passando pelo século XIX com obras caracterizando os costumes da cidade, a natureza e a arquitetura. 
Dos séculos XX e XXI, as obras abordadas pelos autores no livro mostram novos olhares sobre a cidade por meio de produções contemporâneas como objetos e instalações, somados a painéis azulejares, pinturas e fotografia.
Desse modo Raimunda Fortes e João Carlos revisitam a história da São Luís através das produções artísticas e literárias e se utilizam de fotografias recentes dos locais representados nas obras, propiciando ao leitor uma oportunidade de comparar o ontem e o hoje da cidade e contribuindo para despertar novos olhares e novas formas de se pensar a arte e a cidade.
            O prefácio do livro foi escrito pelo Prof. Dr. José Henrique de Paula Borralho - Departamento de História da UEMA; e as fotografias são de autoria do Prof. Dr. Audalio Rebelo Torres Junior - Departamento de Oceanografia da UFMA.