quinta-feira, 5 de maio de 2016

JOVENS ARTISTAS ITAPECURUENSES



         
A cidade de Itapecuru Mirim é famosa pelo seu passado glorioso ligado à economia, com grande produção de algodão e comércio de gado bovino; à história, servindo de palco para episódios da Balaiada e da Adesão do Maranhão a Independência do Brasil; e principalmente à intelectualidade, sendo berço de intelectuais como a magnífica Mariana Luz, o ilustre Gomes de Sousa, o notável Zuzu Nahuz e tantos outros.
Devido a esse passado imponente é comum ouvirmos em tom de lamentação, que Itapecuru é a terra do “já foi e já teve”. Mas nem só das glórias do passado vive Itapecuru, seus filhos contemporâneos, tem buscado manter acesa a chama da intelectualidade com iniciativas como a criação da Academia de Ciências, Letras e Artes objetivando fomentar a produção cultural, a pesquisa e a preservação dos diversos aspectos da história itapecuruense.
No entanto, não é a Academia o tema deste texto, e sim o CURSO DE DESENHO ARTÍSTICO DA CASA CULTURA, criado em março de 2013, por iniciativa da escritora Jucey Santana, em parceria com o dedicado e talentoso professor/artista Ailson Lopes, e mantido com o apoio solidário de alguns outros itapecuruenses.
Em breve conversa com Jucey Santana, Ailson e os alunos do curso pude conhecer um pouco mais dessa bela iniciativa, que pode servir, em breve, para a criação de um centro de criatividade em Itapecuru Mirim.
Segundo Jucey, ela criou o curso de desenho, que é gratuito, para atender a população jovem que busca preencher o tempo ocioso com atividades lúdicas e criativas com foco nas artes visuais e principalmente para inclusão dos que estão expostos a vulnerabilidade social. 
O curso funciona em uma sala ampla na Casa da Cultura Professor João Silveira e é ministrado pelo Ailson, que trabalha como professor voluntário, sendo auxiliado pelos alunos mais experientes.
Para participar do curso basta ter idade mínima de 10 anos. Os alunos são divididos em dois turnos com aulas duas vezes por semana. Sendo duas turmas por turno. Alguns alunos gostam tanto do curso que frequentam todos os dias.

Quando perguntei ao professor Ailson a respeito das suas afinidades artísticas, ele comentou: “sempre gostei do trabalho artístico. Sou pintor amador, autodidata. Os cursinhos que apareciam por aqui eu fazia. Sempre fui curioso. Sou também músico, e estou também iniciando o curso de xadrez na Casa da Cultura, para movimentar a Casa com atividades culturais e lazer saudável. ”
Ao conversar com Ailson é possível perceber a sua felicidade em contribuir com a formação artística de tantos jovens. Segundo ele, “é um trabalho bastante prazeroso pelo fato de ser uma atividade que tenho afinidade. Construí amizades, sou respeitado e valorizado na minha arte. Vejo com satisfação o desenvolvimento de muitos alunos e a busca incessante por espaços desta categoria.
Os alunos comentaram que despertaram o gosto pela arte de desenho e pintura ainda na infância, e ao saber do curso, procuraram a Casa de Cultura, iniciaram as aulas e lá permanecem com muita dedicação.  A maior motivação da maioria é o professor Ailson. Ele é muito querido. Tem uma excelente didática, sabe brincar, coloca apelido em todo mundo, mas ao mesmo tempo é exigente e respeitado pelos alunos.  O sonho de todos é que o curso seja legalizado e o Centro Artístico seja criado em Itapecuru Mirim.

“ Me sinto gratificado em poder dar essa contribuição aos jovens carentes de atividades culturais e artísticas, preenchendo uma lacuna para a classe juvenil exposta aos descaminhos sociais. ”   Ailson Lopes


Antonio José e Leonardo Frazão (com os desenhos do Desembargador  Bandeira de Melo
e do ex-prefeito Bernardo Thiago de Matos )


quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

EDI BRUZACA E O GRAFFITI EM SÃO LUÍS






































Neste post apresento uma breve entrevista com o artista grafiteiro Edi Bruzaca. Ele iniciou sua atividade artística em meados de 2000 grafitando os muros da comunidade do São Cristóvão, periferia de São Luís, onde sempre residiu. Articulador, esteve engajado em várias iniciativas de cultura de rua em prol do graffiti Maranhense. Participou de inúmeros eventos e festivais para representação do seu estado, no cenário nacional e internacional tais como: 3º Encontro de Hip Hop Nordestino - Teresina – PI - 2009; 100muros Milcores – Brasilia-DF - 2009; Festival Americo-Latino de Juventude – Fortaleza – CE- 2010;    Encontro da Diversidade Cultural – Rio de Janeiro- RJ- 2010; V Intregar- Intervenção de Graffiti da região do Araripe – Exu- PE - 2011; 5º Encontro de Graffiti de Fortaleza – Fortaleza-CE – 2011; Encontro Internacional de Graffiti Street of Style – Curitiba- PR - 2012;  Mutirão de Graffiti em Belém- PA – 2012; Encontro Internacional de Graffiti Street of Style – Curitiba- PR – 2013; Mof- Meeting of Favela – Rio de Janeiro – RJ - 2013;  Encontro de Graffiti Ver o Risco - Belém-PA – 2013; Encontro Conexão 41 graus – Teresina – PI – 2013; Encontro de Graffiti Pão e Tinta – Recife- PE 2014;  Purencontro de Graffiti – Juiz de Fora-MG-2014;  Festival de Graffiti- Bahia de Todas as Cores -  Salvador –BA – 2015; Encontro Internacional de Graffiti Street of Style – Curitiba- PR – 2015;  “Go Make” encontro de Graffiti -  Pinhais –PR – 2015.

JC: O que é graffiti?

BRUZACA: Segundo Nicholas Ganz (2006), a palavra “Graffiti vem do latim italiano Graffito que significa escrita em muros/paredes”. Os primeiros Graffiti surgem em meados da década de 1960, com as tags (assinaturas), na qual os grupos de breaks (dançarinos de rua) usavam para demarcavam os territórios na cidade do Bronx, estado Nova Iorquino. Com o tempo os grafiteiros que faziam parte dos grupos, buscavam um maior reconhecimento dentro da cidade em que habitavam. Dessa forma, vivo o graffiti com minha vida, não foi uma escolha minha pelo graffiti e sim ele que me escolheu, acredito nisso por que já mencionei inúmeras vezes em desistir e seguir outra linha, mas o laço é tão forte que não consigo me desvincular do graffiti.

JC: O que você sabe sobre os primórdios do graffiti em São Luís?

BRUZACA: O Maranhão entra para cena do graffiti no final da década de 1980, através do skatista Paulo Renato, que na época, vindo de uma de suas viagens a campeonato de skate, onde descobriu o graffiti na pista de skate. Em sua volta para São Luís conversou com seus amigos que tinham uma banda chamada Mess e os convidou para fazerem graffiti, isso em um ponto da cidade no bairro do São Francisco do outro lado, já influenciado pelas música e estilo de dança; no bairro da liberdade já tinha alguns registros do graffiti também, e essa foi a motivação para que os jovens da época começassem a fazer graffiti.

São Luís tem suas gerações de grafiteiros. A primeira geração vem de alguns jovens que faziam parte de grupos de breaks, rappers e do movimento punk da cidade como citado acima; a segunda geração vem do movimento hip-hop na década de 1990, onde existiam writers (grafiteiros) por todos os bairros da capital. Essas duas gerações chamamos de Old School (velha escola). Já nos anos 2000, cresce o número de writers pela cidade, oriundos de projetos sociais, desenvolvidos pelo movimento negro com parceria da cultura do hip hop.

JC: Como é o panorama atual do graffiti em São Luís?

BRUZACA: Hoje temos um grande número de grafiteiros com diversos estilos na cidade, isso faz com que conquistemos mais espaços dentro da sociedade pela nossa persistência em pintar cada canto. Mas as dificuldades ainda continuam as mesmas, material caro e de baixa qualidade, falta de apoio para as atividades, discriminação, entre outras coisas que vem acontecendo nas ruas. Mas também fazemos questão de passarmos nossa mensagem na exuberância de formas, cores, texturas dentro de cada painel e a sociedade só tem a ganhar.

A arte do graffiti está sendo difundida de forma tão rápida que temos vários nomes que já estão ganhando visibilidades fora do estado, adentrando as galerias de arte e se inserindo nos demais eventos de artes visuais, ganhando vários suportes onde podem se interagir e despertar curiosidade.


domingo, 25 de outubro de 2015

TAIPA - MURILO SANTOS

Estou de volta ao blog para publicar uma série de entrevistas com artistas maranhenses ou radicados no Maranhão, tendo como foco uma ou duas obras significativas de suas produções, de forma contribuir com a socialização da historiografia artística maranhense, bem como do seu acervo visual. A primeira dessas entrevistas é com Murilo Santos sobre a sua obra Taipa, e foi mediada por Adriana Tobias. 

Porém, antes da entrevista, reproduzo um fragmento do artigo de VIEIRA COSTA, Gil. Estética assombrada: um olhar sobre a produção artística contemporânea na Amazônia brasileira quatro assombrações. Publicado na REVISTA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES DA EBA/UFMG: Pós: Belo Horizonte, v. 4, n. 7, p. 117 - 130, maio, 2014.




Taipa se situa no limiar confuso entre escultura, fotografia, pintura e instalação. Como o título sugere, a obra é uma parede de taipa de mão (técnica de construção rudimentar que usa barro e madeira, também conhecida como pau-a-pique), com pouco menos de dois metros de altura e um metro de largura. A taipa é signo da desgraça de um povo que, sem melhores condições de moradia, desenvolve seus próprios artifícios para responder às necessidades cotidianas. Também é um fragmento do real trazido para a exposição: uma realidade precária. Murilo Santos se apropria da materialidade amazônica, como forma de testemunhar suas modernidades.

Mas, além da forma, a obra traz em seu próprio conteúdo o discurso sobre as questões amazônicas. Nessa parede de taipa o artista gravou, em tamanho natural e em alto contraste de preto e branco, a imagem fotográfica de quatro assombrações. Uma mãe e suas três crianças nos olham de frente, estáticos, paupérrimos, como se fossem eles próprios feitos de pau-a-pique, construções frágeis e vítimas de processos excludentes que se amontoam no decorrer das décadas. Está presente ali uma maldição familiar, herança repassada de geração em geração, como se já estivesse no próprio sangue daquelas visagens humanas. A família que nos observa em Taipa é testemunha do delito: na Amazônia, uma modernidade problemática que traz exclusão e morte. 
Falando agora sobre a entrevista, a obra Taipa, sempre despertou em mim uma grande admiração pela sua inovação técnica e pelo enfoque de temática social, bem como outros aspectos evidenciados na entrevista. Desse modo, enviei as seguintes perguntas para Murilo Santos:

01)   QUAL FOI A MOTIVAÇÃO INICIAL PARA A PRODUÇÃO DESSE TRABALHO?
02)   QUAL A ORIGEM DA FOTO USADA NA PROJEÇÃO?
03)   QUE EQUIPAMENTO VOCÊ USOU PARA FAZER A PROJEÇÃO?
04)   VOCÊ MESMO FEZ A TAIPA (FRAGMENTO DA PAREDE)?
05)   PARA QUE EVENTO FOI PRODUZIDA ESSA OBRA?
06)   ELA FOI PREMIADA?
07)   COMO ELA PASSOU A PERTENCER AO ACERVO DO MUSEU?
Temos abaixo a resposta 01, enviada por ele. E como comentou Adriana Tobias " responde praticamente todas as perguntas".

RESPOSTA 01 - Na época havia uma atmosfera no nosso universo artístico de busca de novas dimensões para as expressões então trabalhadas, fotografia, teatro, etc. Acho que o exemplo da fotografia nesta obra expressa essa busca. É bom saber que a experiência de “Taipa” e outros trabalhos semelhantes que fiz, não representava e não queria que fosse interpretada como uma terceira expressão, digamos assim. Ou seja, uma formulação de proposta que estaria entre a pintura e a fotografia. A intenção era a de manter a obra ancorada na fotografia e experimentar fugir do suporte habitual para mostras que era até então o papel fotográfico. Digo “até então”, pois temos hoje o suporte digital. Com essa obra, com esse conceito, não me senti fugindo da fotografia, da representação do real pelo dispositivo fotográfico.
Porém, na descrição da obra, exigida para a exposição a que ela foi produzida, para o I Salão Maranhense de Artes Plásticas, em 1978, foi: “Reprodução através de pintura e de fotografia sobre cimento”. A descrição da ação física, digamos assim, e dos materiais utilizados, não descrevem exatamente a proposta. O processo técnico utilizado foi: produzir uma foto, tomar a película em negativo e copiá-la em película de alto contraste para eliminar os meios tons, obtendo consequentemente um positivo. Depois desse processo, utilizando um projetor de slides fotográficos, projetar a imagem no painel de taipa. Taipa é um termo regional para a técnica construtiva conhecida em outras regiões do Brasil como pau a pique. A projeção da imagem sem meios tons é como se fosse um mapa e desta forma a pintura torna-se mais fácil. É só pintar as “regiões” do mapa, no caso, as áreas em preto. Utilizei essa técnica em parede de grandes dimensões, mas a proposta na obra em questão foi gerar uma textura pertinente ao tema da foto e “tatuá-la” com uma imagem de seu próprio universo.
O cimento foi utilizado, pois o barro não se sustentava no painel. Lembro que as varas foram adquiridas no Porto de Roma, no bairro da Fé em Deus, onde esse material era vendido para construção de cercas e de casas.
A lamparina adicionada foi questionada por alguns que a consideravam um apêndice não coerente com a escultura, digamos assim, da superfície do painel. Entretanto, ela representa um elemento que possui talvez significado mais pessoal. É um elemento pertinente e ao mesmo tempo externo ao quadro, mas foi necessária à minha própria compreensão daquilo que produzi. É pertinente, pois é um elemento que remete à ausência da luz elétrica e essa ausência, assim como a própria taipa, simboliza a condição de grande parte da população, representada por esta mulher e seus filhos, que estão à margem, que não são alcançadas pelo Estado. Além disso, a presença da lamparina real, comprada numa feira da cidade, elemento por assim dizer conceitual cuja confecção antecede ao tempo de execução da obra e cuja função real é usurpada para assumir na obra a mesma função, porém, simbólica, embora pintada de preto com a mesma tinta com que foi pintada as zonas escuras da imagem, representa no plano bidimensional o ponto de onde emana a luz na cena fotográfica. Mas não somente isso, minha intensão foi tornar esse “apêndice” uma representação de minha própria externalidade física e social à cena, enxergando-a por meio da minha câmera fotográfica. A lamparina é uma referência da “luz” invisível que nos faz decidir no avançar do tempo o instante fotográfico a ser definitivamente retido.   

sábado, 11 de abril de 2015

REVIVESCÊNCIA ARTÍSTICA: O centenário da chegada do pintor José de Paula Barros à São Luís.

“– Era segunda-feira, 5 de abril de 1915, um dia comum para a população da velha cidade de São Luís, a mesma rotina, o mesmo clima, a mesma paisagem. Da Praça João Lisboa era possível ouvir aquele som característico de apitos dos vapores, vindo da direção do porto, um dos locais onde a vida era mais intensa na cidade, com constantes embarques e desembarques de pessoas e produtos. Naquele dia, a rotina não era diferente, havia uma movimentação frenética de passageiros e embarcadiços transportando todo tipo de mercadorias e bagagens.
Em meio àquela agitação toda, um senhor alto, magro, bem vestido, recomendava aos embarcadiços para terem cuidado com suas bagagens. O seu nome: José de Paula Barros, ou simplesmente Paula Barros. Pintor, desenhista, decorador, arquiteto e fotógrafo. Ele acabara de chegar de Belém, no paquete Pará.”

José de Paula Barros



Desse modo é narrada a chegada do artista Paula Barros ao Maranhão no livro Revivescência, obra inédita do autor deste artigo, que resgata do esquecimento o mais importante precursor do ensino e produção artística na São Luís das primeiras décadas do século XX. 
 José de Paula Barros (c.1883-1926) era cearense, mas chegou ao Maranhão, procedente de Belém do Pará. Ele era um artista renomado, havia estudado em Paris, e em Fortaleza havia participado da decoração interna do Teatro José de Alencar. Em São Luís, criou ainda em 1915 uma escola de desenho e pintura que funcionava no prédio que atualmente é sede da Academia Maranhense de Letras. 
antiga sede da Escola de Desenho e Pintura de José de Paula Barros (atual sede da Academia Maranhense de Letras)

Posteriormente, em 1922, ele participou da fundação da Escola de Belas Artes do Maranhão, onde coordenava e ensinava desenho e pintura.
Primeira sede da Escola de Belas Artes do Maranhão e do Casino Maranhense. 

Na São Luís das primeiras décadas do século XX, Paula Barros teve relevante importância na formação de artistas plásticos. Foram seus alunos: Arthur Marinho, Evandro Rocha, Levi Damasceno, Rubens Damasceno, Hilton Aranha, Telésforo de Moraes Rêgo Filho, Amena Varella, Beatriz Varella e vários outros jovens que buscaram formação artística na sua escola, no seu ateliê ou na Escola de Belas Artes.

Retrato de Achiles Lisboa - foto crayon de José de Paula Barros
Retrato de Marcelino Marchado - foto crayon de José de Paula Barros
 Além do ensino, ele produziu dezenas de obras de arte, principalmente retratos a óleo, crayon e foto-crayon; e abriu duas lojas de material artístico: Moldura Elegante e Casa Paula Barros.
Casa Paula Barros (ficava localizada na Rua do Sol. Foi demolida e no seu lugar construíram o Edifício Colonial)

Quando chegou ao Maranhão, Paula Barros era divorciado de Francisca “Jacy” Leal de Miranda com quem teve cinco filhos: Neópolo, Murilo, Rembrandt, Rubens e Rafael, os quatro últimos receberam nomes de artistas famosos da História da arte devido à paixão que ele cultivava pela pintura.
Amena Varella (Amina Paula Barros)
Em 1917, ele casou com a sua ex-aluna Amena Carmem Varella (26/03/1897 – 26/01/1953), que anos depois adotaria o nome artístico “Amina Paula Barros”. Tiveram quatro filhas: Maria de Lourdes, Zilda, Maria Frassinetti e Maria de Nazareth.
Bandeja decorada internamente na técnica Louzimana

José de Paula Barros faleceu precocemente, aos 27 de fevereiro de 1926, vítima de uma crise de enfisema pulmonar. Quanto à Amena, esta também se tornou professora, artista e comerciante; criou uma técnica de pintura intitulada LOUZIMANA (nome formado a partir das letras/sílabas iniciais dos nomes das suas quatro filhas: Lourdes, Zilda, Maria Frassinetti e Nazareth.); 
fundou a Escola Paula Barros; realizou exposições em diversas partes do país; e é considerada a primeira mulher a ter destaque no panorama artístico maranhense.
Foz do Rio Anil - José de Paula Barros


Foz do Rio Anil - Amina Paula Barros



 Hoje, 5 de abril de 2015, não deveria ser um dia comum para a população da velha cidade de São Luís, e sim um dia para lembrarmos do centenário da chegada de José de Paula Barros por toda a sua contribuição para o panorama artístico maranhense no século XX. No entanto, ele e Amena Varella são lembrados apenas por seus descendentes e pelos poucos estudiosos da história da arte no Maranhão.

(Artigo publicado na edição do dia 05/04/2015 do jornal O Estado do Maranhão/Alternativo)

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

REVIVESCÊNCIA: a vida e a arte dos Paula Barros


BREVE NAS MELHORES LIVRARIAS



PRÓLOGO

                Era uma quarta-feira chuvosa em São Luís. Eu me dirigia apressadamente ao Arquivo Público, na Rua de Nazaré, para devolver ao pesquisador Luiz de Mello um exemplar da sua “Cronologia das Artes Plásticas” que estava comigo.  Assim que cheguei à Rua Portugal a chuva interrompeu a minha viagem. Com medo de molhar o livro, busquei abrigo. Por sorte consegui chegar até o Museu de Artes Visuais. Cumprimentei alguns amigos que trabalham lá, e para passar o tempo subi para rever o seu velho acervo e verificar se havia alguma obra exposta que eu ainda não conhecesse.
          Chegando ao segundo pavimento corri os olhos pela sala principal e reconheci todas as obras. Decidi então observar de uma das janelas da sala a chuva torrencial lavando os telhados dos velhos casarões da Praia Grande. Fiquei alguns minutos hipnotizado nessa contemplação quando algumas vozes vindo do lado direito da sala despertaram a minha atenção. Observo Seu Bartô[1] acompanhado por dois estagiários (guias/mediadores) do Museu.
         O diálogo entre eles era motivado por uma velha tela retangular que representava uma vista panorâmica de São Luís a partir da foz do rio Anil. Era uma pintura de Amina Paula Barros, importante artista maranhense da primeira metade do século XX. Já cansado de ver a chuva castigar os telhados resolvi me aproximar dos três e pedi licença para participar da conversa:
         – Olá Seu Bartô, tudo bem?! – Oi João Carlos!– respondeu ele, e em seguida me apresentou a Marta e Paulo, os dois estagiários.
         – O João Carlos é um pesquisador da arte maranhense, talvez ele possa tirar a nossa dúvida! – Essa edificação com palmeiras à frente representada na pintura é o Convento das Mercês ou o Palácio dos Leões? – perguntou Seu Bartô.
         – É o Palácio! – respondi com convicção.
– Eu havia falado que era o Palácio. – comentou Seu Bartô – Mas eles questionaram se não seria o Convento das Mercês.
Expliquei detalhadamente porque era o Palácio e comentei que já pesquisava aquela artista e as suas obras há bastante tempo. Ela, inclusive, havia sido tema de uma monografia de graduação do Curso de Licenciatura em Educação Artística da UFMA, de Cinthia[2], uma amiga minha.
         Quando eu falei que Amina fora casada com um famoso artista cearense que havia trabalhado na decoração interna do Teatro José de Alencar, em Fortaleza, eles se interessaram pelo assunto. E como a chuva não dava nenhum sinal de que iria parar nas próximas horas, decidimos sentar ali mesmo para conversarmos sobre Revivescência: a vida e a arte dos Paula Barros, um pequeno livro que eu estava concluindo sobre o casal José e Amina Paula Barros.






[1] Bartolomeu Falcão Mendes (1956), funcionário do Museu.
[2] No ano de 2008, Cinthia Naila Corrêa Frazão defendeu a Monografia: “Amina Paula Barros (Amena Varella) e a presença feminina nas artes plásticas maranhense na primeira metade do século xx”, no Curso de Licenciatura em Educação Artística da Universidade Federal do Maranhão.  Habilitação Artes Plásticas. Obteve nota 10.

sábado, 26 de abril de 2014

IV ICONOGRAFIA - ICNOS 10 ANOS (2003-2013)

o ano de 2013 iniciou com São Luís ainda escondida sob a poeira das obras inacabadas prometidas para o seu quarto centenário (segundo a história oficial) em 2012. A Via Expressa, a Avendia Quarto Centenário e o VLT quem lembra dele?............

CONTINUA


terça-feira, 1 de abril de 2014

ICONOGRAFIA III - 2008 (CONVIVÊNCIA)

Após o êxito da exposição de 2007, nos sentimos motivados para realizarmos outra em 2008, desta vez na Galeria do SESC. Além dos artistas da mostra do ano anterior, tivemos o retorno de Raimunda Fortes e convidamos Monica Farias e Francisca Costa que trabalhou em parceria com o professor Wallace Lima. A temática daquele ano foi convivência.  Procuramos abordar diversas formas de convivência na urbi: com a história, com a mobilidade ou imobilidade, com a violência e algumas outras mais...

Adrianna produziu dois trabalhos, o primeiro deles, um enorme quebra-cabeça feito com piche sobre papelão representava aspectos da malha viária da cidade com seus eternos problemas.

O segundo trabalho era uma torre com base de ferro lembrando raízes de mangue e também formas sinuosas dos gradris coloniais da cidade. A parte superior era composta por máscaras de durex representando a convivência espontânea ou forçada da população.



Beto Nicácio no seu trabalho "Sem título" utilizou-se de dois elementos simbólicos de banheiro: a lixeira  e o papel higiênico, ambos são recorrentes à limpeza ou sujeira, dependendo do contexto a que sejam aplicados. no caso da obra de Beto, seria a segunda opção, pela sua indignação com as diversas sujeiras presentes em São Luís: a má educação, a corrupção, a violência e tantas outras.
Uma segunda leitura da obra é estabelecida pelo próprio artista, seria a relação entre depósito bancário e "depósito" em vaso sanitário (ato de defecar).


Instalação s/título - beto Nicácio



Francisca Costa e Wallace Lima abordaram o pseudo título Atenas brasileira atribuído a São Luís. Segundo Francisca:
 APENAS MARANHENSE" Francisca Costa
Convivência com enfoque direcionado em olhares críticos à poluição visual. Expressões que limitam a linguagem culta de nosso idioma e formas de pronunciação. Tida como uma das cidades com a lingua mais limpa e livre de sotaques São Luís se orgulha de intitular-se Atenas Brasileira. Contraste em vistas seu histórico cultural como o da terra em que trouxe Odorico Mendes, tradutor da Ilíada, obra de Homero tida como fundadora da tradição literária ocidental.
O termo parte de um período de ascensão na economia e conseguintemente na cultura. (Jorge Leão).A Estrutura física: Um Móbile que traz ao centro um lampião (memória cultural / contemporâneo) com fotografias penduradas.
Fragmentos e letreiros com erros de construção gramatical, expostos em prédios pela cidade, apontados pelos alunos da Escola Rubem Almeida em uma aula extraclasse.
A obra propõe uma interação direta com o fruidor que à medida que observa as fotografias, dialoga com sua própria imagem refletida em espelhos no móbile e seu papel como cidadão formador de opiniões. Há ainda um letreiro com letras manipuláveis com ímãs ao seu centro que faz um convite à ordenação de palavras além das expostas como o trocadilho ATENAS e APENAS.

João Carlos Pimentel - Convivência em transi tu - objeto 

"Que perguntas e que respostas se pode ter a respeito do trânsito de São Luís? E de que forma convivemos com isso no nosso dia-a-dia!? No seu trabalho CONVIVÊNCIA EM TRÂNSI TU, João Carlos buscou expressar um pouco desse tormento pelo qual, quase todos nós, somos obrigados a passar cotidianamente em São Luís.A obra é materializada numa pequena placa de fibra de madeira prensada tingida com piche e preenchida ao longo de toda a sua extensão com números de placas de carros nos dois sentidos de um avenida, entrecortados por um canteiro ocupado para as mais diversas finalidades.Como últimos elementos aparecem os fragmentos de fita gomada representando tudo o que vive prendendo ou prendendo-se ao trânsito: a imprudência, a fadiga, o estresse, as barreiras, os acidentes, os assaltos, os pedintes, os pedestres e tantas outras categorias impregnadas na dinâmica das ruas e avenidas de São Luís" (notas do artista).



Objeto: "APRENDER A SER E A CONVIVER " Maciel Pinheiro



"Inspirado na violência urbana ludovicense. É um protesto e contra o excesso de gente na cidade e no planetaÉ um tributo à natureza humana (não há nada mais mortal e destrutivo do que o ser humano, a violência é o único meio de pelo qual evoluímos). É uma alusão à hipocrisia dos que são a favor do desarmamento" (notas do artista).













Instalação: "FRAGMENTOS: ÍCONES DA ICONOGRAFIA URBANA DE SÃO LUÍS" Monica Rodrigues


"A utilização de recursos visuais fotográficos com registros de locais conhecidos ou não, mas presentes no cotidiano ludovicence, incorporado a um suporte comumente conhecido para uso de calçamento. Locais de percurso de pedestres que são sujeitos ativos que andam a maioria das vezes com os olhos voltados para o chão e um olhar fugaz, insuficiente para dar conta das visualidades de nossa iconografia urbana. De um Projeto denominado Analogias da Arte realizado com alunos do CEGEL em 2003. Trabalha História da Arte observando a realidade de nossa cidade e sua estética urbana.


Pesquisa in loco, numa expedição cultural e o uso do registro fotográfico de locais às vezes passados despercebidos no corre-corre diário das pessoas. As visualidades registradas nesta ocasião continuaram gerando novos conceitos e possibilidades de enfoque de construção plástica, daí o novo trabalho: Fragmentos". (notas da artista).


Instalação"NEWTON SÁ, POR ONDE ANDARÁ? " Raimunda fortes

"Pessoas foram fotografadas com a pergunta "Por onde andará" em lugares nos quais existiam duas obras públicas de Newton Sá (artista maranhense que completaria 100 anos em 2008). Como essas obras já desapareceram e não existem registros do que aconteceu com elas, o tecido preto está recobrindo a imagem delas deixando ver por uma abertura apenas uma cruz que representa a morte delas para o público e as pessoas que continuam sem uma resposta para a sua indagação" (notas da artista).





Instalação: "LEMBRANÇAS DE SÃO LUÍS" Regis Costa Oliveira
Normalmente, os trabalhos de Régis são autobiográficos, intimistas e viscerais. Nas "Lembranças" estas recorrências também estão presente. É uma produção que faz uma justaposição simbólica entre o passado histórico e o presente incerto. A obra possui formato de tapete azulejar oitocentista composto em padrão 2x2, reconfigurado com a imagem de 8 revólveres  que fazem alusão à imagem de reféns de braços abertos, numa clara referência  à excessiva violência presente em São Luís.



Obs.: as imagens e os textos "notas do artista" foram extraídos do blog da Francisca Costa:  http://frarte.blogspot.com.br/  em 22/8/2014