quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

EDI BRUZACA E O GRAFFITI EM SÃO LUÍS






































Neste post apresento uma breve entrevista com o artista grafiteiro Edi Bruzaca. Ele iniciou sua atividade artística em meados de 2000 grafitando os muros da comunidade do São Cristóvão, periferia de São Luís, onde sempre residiu. Articulador, esteve engajado em várias iniciativas de cultura de rua em prol do graffiti Maranhense. Participou de inúmeros eventos e festivais para representação do seu estado, no cenário nacional e internacional tais como: 3º Encontro de Hip Hop Nordestino - Teresina – PI - 2009; 100muros Milcores – Brasilia-DF - 2009; Festival Americo-Latino de Juventude – Fortaleza – CE- 2010;    Encontro da Diversidade Cultural – Rio de Janeiro- RJ- 2010; V Intregar- Intervenção de Graffiti da região do Araripe – Exu- PE - 2011; 5º Encontro de Graffiti de Fortaleza – Fortaleza-CE – 2011; Encontro Internacional de Graffiti Street of Style – Curitiba- PR - 2012;  Mutirão de Graffiti em Belém- PA – 2012; Encontro Internacional de Graffiti Street of Style – Curitiba- PR – 2013; Mof- Meeting of Favela – Rio de Janeiro – RJ - 2013;  Encontro de Graffiti Ver o Risco - Belém-PA – 2013; Encontro Conexão 41 graus – Teresina – PI – 2013; Encontro de Graffiti Pão e Tinta – Recife- PE 2014;  Purencontro de Graffiti – Juiz de Fora-MG-2014;  Festival de Graffiti- Bahia de Todas as Cores -  Salvador –BA – 2015; Encontro Internacional de Graffiti Street of Style – Curitiba- PR – 2015;  “Go Make” encontro de Graffiti -  Pinhais –PR – 2015.

JC: O que é graffiti?

BRUZACA: Segundo Nicholas Ganz (2006), a palavra “Graffiti vem do latim italiano Graffito que significa escrita em muros/paredes”. Os primeiros Graffiti surgem em meados da década de 1960, com as tags (assinaturas), na qual os grupos de breaks (dançarinos de rua) usavam para demarcavam os territórios na cidade do Bronx, estado Nova Iorquino. Com o tempo os grafiteiros que faziam parte dos grupos, buscavam um maior reconhecimento dentro da cidade em que habitavam. Dessa forma, vivo o graffiti com minha vida, não foi uma escolha minha pelo graffiti e sim ele que me escolheu, acredito nisso por que já mencionei inúmeras vezes em desistir e seguir outra linha, mas o laço é tão forte que não consigo me desvincular do graffiti.

JC: O que você sabe sobre os primórdios do graffiti em São Luís?

BRUZACA: O Maranhão entra para cena do graffiti no final da década de 1980, através do skatista Paulo Renato, que na época, vindo de uma de suas viagens a campeonato de skate, onde descobriu o graffiti na pista de skate. Em sua volta para São Luís conversou com seus amigos que tinham uma banda chamada Mess e os convidou para fazerem graffiti, isso em um ponto da cidade no bairro do São Francisco do outro lado, já influenciado pelas música e estilo de dança; no bairro da liberdade já tinha alguns registros do graffiti também, e essa foi a motivação para que os jovens da época começassem a fazer graffiti.

São Luís tem suas gerações de grafiteiros. A primeira geração vem de alguns jovens que faziam parte de grupos de breaks, rappers e do movimento punk da cidade como citado acima; a segunda geração vem do movimento hip-hop na década de 1990, onde existiam writers (grafiteiros) por todos os bairros da capital. Essas duas gerações chamamos de Old School (velha escola). Já nos anos 2000, cresce o número de writers pela cidade, oriundos de projetos sociais, desenvolvidos pelo movimento negro com parceria da cultura do hip hop.

JC: Como é o panorama atual do graffiti em São Luís?

BRUZACA: Hoje temos um grande número de grafiteiros com diversos estilos na cidade, isso faz com que conquistemos mais espaços dentro da sociedade pela nossa persistência em pintar cada canto. Mas as dificuldades ainda continuam as mesmas, material caro e de baixa qualidade, falta de apoio para as atividades, discriminação, entre outras coisas que vem acontecendo nas ruas. Mas também fazemos questão de passarmos nossa mensagem na exuberância de formas, cores, texturas dentro de cada painel e a sociedade só tem a ganhar.

A arte do graffiti está sendo difundida de forma tão rápida que temos vários nomes que já estão ganhando visibilidades fora do estado, adentrando as galerias de arte e se inserindo nos demais eventos de artes visuais, ganhando vários suportes onde podem se interagir e despertar curiosidade.


JC: Quais foram as suas primeiras influências nessa linguagem artística?

BRUZACA:  Ingressei no pixo, primeiramente por influência do meu irmão e amigos dele, mas não permaneci por muito tempo, o contato com o graffiti foi logo depois, a partir de um mural feito pelo grupo Código Visual em 1999, no bairro do Jardim São Cristóvão, onde eu fazia o trajeto da escola para casa todos os dias e reparava o trabalho deles por minutos. Depois, impulsionado a buscar mais conhecimentos, adquiri várias revistas que vinham com apenas duas páginas com graffiti. A partir daí me espelhei nos trabalhos de grafiteiros que apareciam nas revistas. Pegava uma letra de um, com letra de outro para forma meu nome, artistas como Binho, Graphis, Bonga, Ment, Eco, Ema, Satão e outros. Eu acredito que não escolhi o graffiti com opção de arte, mas sim o graffiti que me escolheu para disseminar a arte por todos os lugares que possa estar.

JC: O que é o “Víru’s Urbano Crew”? Quando foi fundado? E quais são as principais ações desse grupo?

BRUZACA: O Viru’s Urbano foi fundado em 11 de setembro de 2002, com a formação de Siano e Bello, depois teve o ingresso do Gil Peniel no grupo. Eles desenvolviam apenas murais e trabalhos comerciais. No ano de 2012 fui convidado pelo Gil Peniel para ingressar no grupo. Depois de realizamos juntos a primeira edição do Encontro Nacional de Graffiti Riscos e Rabiscos.

Hoje o grupo trabalha com um projeto social atendendo crianças e adolescentes do polo Coroadinho com oficinas, palestras e murais artísticos em parceria com órgão privados, além de continuarmos realizando novas edições do Encontro Nacional de Graffiti Riscos e Rabiscos. Atualmente o grupo é formado por Siano, Gil Peniel, Gudo Soares, Edi Bruzaca e Bello (que reside em Macaé).

JC: Você já grafita há mais de 10 anos. Tendo ao longo desse tempo produzido dezenas de murais individuais e coletivos. Como você define o seu estilo? Existem elementos formais ou figuras que são recorrentes em todos os seus trabalhos ou na maioria deles? Você faz esboços prévios sobre papel ou cria diretamente sobre o suporte definitivo da obra?  

BRUZACA: Hoje tenho um estilo que caracteriza meu trabalho, faço um trabalho em série chamando o mundo do pescador de sonhos que tem uma poética visual que se configura entre o universo onírico e o universo da realidade urbana, conferindo a essa realidade um mundo da fantasia – mítico – que não mais somos capazes de vislumbrar com a perda do valor simbólico, com plasticidade que se aproxima do movimento artístico surrealismo. Além deste trabalho desenvolvo tipografias dentro do graffiti onde procuro ressaltar o máximo de traços, cores e formas que fazem simbologias à cidade de São Luís.

JC: Façamos agora a análise de dois trabalhos seus:
"Pinhais"

Analisando a composição desse mural, é possível observar um globo onírico habitado por uma criança flutuando numa sombrinha invertida cujo cabo é formado por um poste de luz em estilo colonial; esse globo é circundado por volutas, círculos e formas mistas, e externado por moldura cinza. Que abordagem e conceito você propõe com essa composição?

BRUZACA: Esta obra pertence à série “O mundo do pescador de sonhos”. Foi produzida na cidade de Pinhais –PR, durante a minha participação no Encontro Nacional de Graffiti “Go Make”.
Quando estou produzindo primeiro penso em tudo aquilo que deixamos de lado por assumir compromissos com grau mais elevados, estes compromissos que nos fazem acelerar durante nossa vida deixando nossa imaginações e sonhos de crianças se perder, então no trabalho O mundo do pescador de sonhos tento passar para o apreciador a experiência de se ver dentro de um mundo onde todos quando criança sonhava em ter, uma casa feita de doce, a imaginação de poder voar sobres as nuvens. Nesse trabalho inclui elementos que são ícones da nossa ilha como poste de luz de estilo colonial e o campo com o coqueiro, pois acredito que sempre é importante reforça o seu lugar de origem.

                     “Feira Grátis da Gratidão" 



JC: É uma composição em ritmo vertical, lida de baixo para cima a partir de um pergaminho que se transforma numa mão da qual emergem flores e corações. É um trabalho de colorido agradável, com predominância dos tons rosa, azul e da carnação em degradê a partir do pergaminho. Que simbologias você buscou representar utilizando esses elementos?

BRUZACA: Se refere a uma intervenção dentro do evento Feira Grátis da Gratidão. Este evento é realizado para praticarmos a gratidão entre as pessoas. Fui convidado pelos organizadores para participar com minha arte, utilizei um papelão como suporte onde desenvolvi a arte em cima do tema, a produção faz referência a vários símbolos que exalta a gratidão como o pergaminho simboliza o livro sagrado onde tem lições de gratidão e a mão que é o veículo da gratidão para a sociedade, fazendo que os corações se tornem mais puros e cheios de amor ao próximo.

5 comentários:

Monica Rodrigues de Farias disse...

Excelente ideia de entrevistar Edi Bruzaca. No fim do ano passado fiz uma oficina com ele para poder entender melhor a técnica. Muito importante trazer seu trabalho artístico para o maior conhecimento de todos os interessados.

Suciney disse...

Valeu, João Carlos... um abraço.

Suciney disse...

Valeu, João Carlos... um abraço.

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

Eu já desenho um tempo mas ultimamente comecei a me interessar pelo grafite, aguém poderia me informar onde tem uma escola em são luis de grafite?