Neste post apresento uma breve entrevista com o artista grafiteiro Edi Bruzaca. Ele iniciou sua atividade artística em meados de 2000 grafitando os muros da comunidade do São Cristóvão, periferia de São Luís, onde sempre residiu. Articulador, esteve engajado em várias iniciativas de cultura de rua em prol do graffiti Maranhense. Participou
de inúmeros
eventos e festivais para representação do seu estado, no cenário nacional e
internacional tais como: 3º Encontro de Hip Hop Nordestino - Teresina –
PI - 2009; 100muros Milcores – Brasilia-DF - 2009; Festival Americo-Latino de Juventude –
Fortaleza – CE- 2010; Encontro da Diversidade Cultural – Rio de
Janeiro- RJ- 2010; V Intregar- Intervenção de Graffiti da região
do Araripe – Exu- PE - 2011; 5º Encontro de Graffiti de Fortaleza –
Fortaleza-CE – 2011; Encontro Internacional de Graffiti Street of
Style – Curitiba- PR - 2012; Mutirão de Graffiti em Belém- PA – 2012; Encontro Internacional de Graffiti Street of
Style – Curitiba- PR – 2013; Mof- Meeting of Favela – Rio de Janeiro – RJ -
2013; Encontro de Graffiti Ver o Risco - Belém-PA –
2013; Encontro Conexão 41 graus – Teresina – PI –
2013; Encontro de Graffiti Pão e Tinta – Recife- PE
2014; Purencontro de Graffiti – Juiz de Fora-MG-2014; Festival de Graffiti- Bahia de Todas as Cores
- Salvador –BA – 2015; Encontro Internacional de Graffiti Street of
Style – Curitiba- PR – 2015; “Go Make” encontro de Graffiti - Pinhais –PR – 2015.
JC: O que é graffiti?
BRUZACA: Segundo Nicholas
Ganz (2006), a palavra “Graffiti vem do latim italiano Graffito que significa escrita em muros/paredes”. Os primeiros
Graffiti surgem em meados da década de 1960, com as tags (assinaturas), na qual os grupos de breaks (dançarinos de rua) usavam para demarcavam os territórios na
cidade do Bronx, estado Nova
Iorquino. Com o tempo os grafiteiros que faziam parte dos grupos, buscavam um
maior reconhecimento dentro da cidade em que habitavam. Dessa forma, vivo o
graffiti com minha vida, não foi uma escolha minha pelo graffiti e sim ele que
me escolheu, acredito nisso por que já mencionei inúmeras vezes em desistir e
seguir outra linha, mas o laço é tão forte que não consigo me desvincular do
graffiti.
JC: O que
você sabe sobre os primórdios do graffiti em São Luís?
BRUZACA: O Maranhão entra para cena do graffiti no final da década de 1980, através do
skatista Paulo Renato, que na época, vindo de uma de suas viagens a campeonato
de skate, onde descobriu o graffiti na pista de skate. Em sua volta para São Luís
conversou com seus amigos que tinham uma banda chamada Mess e os convidou para fazerem graffiti, isso em um ponto da
cidade no bairro do São Francisco do outro lado, já influenciado pelas música e
estilo de dança; no bairro da liberdade já tinha alguns registros do graffiti
também, e essa foi a motivação para que os jovens da época começassem a fazer
graffiti.
São
Luís tem suas gerações de grafiteiros. A primeira geração vem de alguns jovens
que faziam parte de grupos de breaks, rappers e do movimento punk da cidade
como citado acima; a segunda geração vem do movimento hip-hop na década de 1990,
onde existiam writers (grafiteiros)
por todos os bairros da capital. Essas duas gerações chamamos de Old School (velha escola). Já nos anos
2000, cresce o número de writers pela cidade, oriundos de projetos sociais,
desenvolvidos pelo movimento negro com parceria da cultura do hip hop.
JC: Como é o
panorama atual do graffiti em São Luís?
BRUZACA: Hoje temos um grande número de grafiteiros
com diversos estilos na cidade, isso faz com que conquistemos mais espaços
dentro da sociedade pela nossa persistência em pintar cada canto. Mas as
dificuldades ainda continuam as mesmas, material caro e de baixa qualidade,
falta de apoio para as atividades, discriminação, entre outras coisas que vem
acontecendo nas ruas. Mas também fazemos questão de passarmos nossa mensagem na
exuberância de formas, cores, texturas dentro de cada painel e a sociedade só
tem a ganhar.
A arte do graffiti está sendo difundida de forma tão rápida
que temos vários nomes que já estão ganhando visibilidades fora do estado, adentrando
as galerias de arte e se inserindo nos demais eventos de artes visuais,
ganhando vários suportes onde podem se interagir e despertar curiosidade.
JC: Quais foram as suas primeiras influências nessa linguagem artística?
BRUZACA: Ingressei no pixo, primeiramente por influência do meu irmão e amigos dele, mas
não permaneci por muito tempo, o contato com o graffiti foi logo depois, a
partir de um mural feito pelo grupo Código Visual em 1999, no bairro do Jardim
São Cristóvão, onde eu fazia o trajeto da escola para casa todos os dias e
reparava o trabalho deles por minutos. Depois, impulsionado a buscar mais
conhecimentos, adquiri várias revistas que vinham com apenas duas páginas com
graffiti. A partir daí me espelhei nos trabalhos de grafiteiros que apareciam
nas revistas. Pegava uma letra de um, com letra de outro para forma meu nome, artistas
como Binho, Graphis, Bonga, Ment, Eco, Ema, Satão e outros. Eu acredito que não
escolhi o graffiti com opção de arte, mas sim o graffiti que me escolheu para
disseminar a arte por todos os lugares que possa estar.
JC: O que é
o “Víru’s Urbano Crew”? Quando foi fundado? E quais são as principais ações
desse grupo?
BRUZACA: O Viru’s
Urbano foi fundado em 11 de setembro de 2002, com a formação de Siano e Bello,
depois teve o ingresso do Gil Peniel no grupo. Eles desenvolviam apenas murais
e trabalhos comerciais. No ano de 2012 fui convidado pelo Gil Peniel para
ingressar no grupo. Depois de realizamos juntos a primeira edição do Encontro Nacional de Graffiti Riscos e
Rabiscos.
Hoje o grupo trabalha com um
projeto social atendendo crianças e adolescentes do polo Coroadinho com oficinas,
palestras e murais artísticos em parceria com órgão privados, além de continuarmos
realizando novas edições do Encontro Nacional de Graffiti Riscos e Rabiscos.
Atualmente o grupo é formado por Siano, Gil Peniel, Gudo Soares, Edi Bruzaca e
Bello (que reside em Macaé).
JC: Você já
grafita há mais de 10 anos. Tendo ao longo desse tempo produzido dezenas de
murais individuais e coletivos. Como você define o seu estilo? Existem
elementos formais ou figuras que são recorrentes em todos os seus trabalhos ou
na maioria deles? Você faz esboços prévios sobre papel ou cria diretamente
sobre o suporte definitivo da obra?
BRUZACA: Hoje
tenho um estilo que caracteriza meu trabalho, faço um trabalho em série
chamando o mundo do pescador de sonhos que tem uma poética
visual que se configura entre o universo onírico e o universo da realidade
urbana, conferindo a essa realidade um mundo da fantasia – mítico – que não
mais somos capazes de vislumbrar com a perda do valor simbólico, com
plasticidade que se aproxima do movimento artístico surrealismo. Além deste trabalho desenvolvo tipografias dentro do
graffiti onde procuro ressaltar o máximo de traços, cores e formas que fazem
simbologias à cidade de São Luís.
JC: Façamos agora a análise de dois trabalhos seus:
"Pinhais" |
Analisando a composição desse mural, é possível observar um globo
onírico habitado por uma criança flutuando numa sombrinha invertida cujo cabo é
formado por um poste de luz em estilo colonial; esse globo é circundado por volutas,
círculos e formas mistas, e externado por moldura cinza. Que abordagem e
conceito você propõe com essa composição?
BRUZACA: Esta obra pertence à série “O mundo do pescador de
sonhos”. Foi produzida na cidade de Pinhais –PR, durante a minha participação
no Encontro Nacional de Graffiti “Go
Make”.
Quando estou produzindo primeiro penso em tudo aquilo que deixamos de
lado por assumir compromissos com grau mais elevados, estes compromissos que
nos fazem acelerar durante nossa vida deixando nossa imaginações e sonhos de
crianças se perder, então no trabalho O
mundo do pescador de sonhos tento passar para o apreciador a experiência de
se ver dentro de um mundo onde todos quando criança sonhava em ter, uma casa
feita de doce, a imaginação de poder voar sobres as nuvens. Nesse trabalho
inclui elementos que são ícones da nossa ilha como poste de luz de estilo
colonial e o campo com o coqueiro, pois acredito que sempre é importante
reforça o seu lugar de origem.
“Feira
Grátis da Gratidão"
JC: É uma composição em ritmo vertical, lida de baixo para cima a partir de um pergaminho que se transforma numa mão da qual emergem flores e corações. É um trabalho de colorido agradável, com predominância dos tons rosa, azul e da carnação em degradê a partir do pergaminho. Que simbologias você buscou representar utilizando esses elementos?
JC: É uma composição em ritmo vertical, lida de baixo para cima a partir de um pergaminho que se transforma numa mão da qual emergem flores e corações. É um trabalho de colorido agradável, com predominância dos tons rosa, azul e da carnação em degradê a partir do pergaminho. Que simbologias você buscou representar utilizando esses elementos?
BRUZACA: Se refere a uma intervenção dentro do evento Feira Grátis da Gratidão. Este evento é
realizado para praticarmos a gratidão entre as pessoas. Fui convidado pelos
organizadores para participar com minha arte, utilizei um papelão como suporte
onde desenvolvi a arte em cima do tema, a produção faz referência a vários
símbolos que exalta a gratidão como o pergaminho simboliza o livro sagrado onde
tem lições de gratidão e a mão que é o veículo da gratidão para a sociedade,
fazendo que os corações se tornem mais puros e cheios de amor ao próximo.
5 comentários:
Excelente ideia de entrevistar Edi Bruzaca. No fim do ano passado fiz uma oficina com ele para poder entender melhor a técnica. Muito importante trazer seu trabalho artístico para o maior conhecimento de todos os interessados.
Valeu, João Carlos... um abraço.
Valeu, João Carlos... um abraço.
Eu já desenho um tempo mas ultimamente comecei a me interessar pelo grafite, aguém poderia me informar onde tem uma escola em são luis de grafite?
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