A arte dos anos de 1970 em São Luís
Na década de 1970, a cidade
de São Luís foi beneficiada no campo artístico, com a criação alguns núcleos,
salões e centros de produção e formação artística, sendo os principais, o
Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís[1],
criado em 1955 por lei municipal. Mas realizado somente a partir de 1974 pela Prefeitura
de São Luís, por meio da Fundação Municipal de Cultura (FUNC).
No governo de Pedro
Neiva de Santana (1971-1975) foram criados pela Primeira-Dama Eney Tavares de
Santana, o Núcleo de Tapeçaria em 1972, localizava-se no Palácio dos Leões; e a Galeria Eney Santana, criada na mesma
época, era situada no Teatro Arthur Azevedo.
Em 1970 foi criado
na Universidade Federal do Maranhão, o curso de Desenho e plásticas[2],
contribuindo para a formação de artistas como Rosilan Garrido, Ana Borges,
Lobato, Donato, Paulo César, Eugênio Araújo e outros.
Foi criado o Centro de
Artes e Comunicações Visuais do Estado (CENARTE), em 1979, pelo governador João
Castelo, com objetivos de intercambiar os artistas locais com artistas de
outros estados. Além de promover cursos e oficinas, foi posteriormente
transformado no Centro de Criatividade Odylo Costa, filho.
Em 1972, Rosa Mochel,
Fátima Frota e Péricles Rocha idealizaram um centro de artes que foi criado
pelo prefeito Haroldo Tavares. Este centro recebeu o nome Japiaçu, em homenagem ao já comentado líder tupinambá.
A arte de São Luís desse
período foi favorecida ainda pela chegada do artista húngaro Nagy Lajos Endre
(1925 –1989). Ele foi professor de vários jovens artistas e contribuiu também
para a criação da Associação dos Artistas Plásticos do Maranhão em 1976[3].
Seu atelier, na Rua dos Afogados, era ponto de encontro para discussão, troca de ideias
e aulas de pintura.
Os principais nomes desse
período são: José de Jesus Santos
(1950), pintor e gravador; Marlene
Barros Ribeiro (1952) trabalha com várias técnicas e estilos; Airton Marinho Macedo (1952), gravador
na técnica da xilogravura; Péricles Augusto
Almeida Rocha (1946), pintor,
desenhista e escultor; Francisco de Sousa Ferreira - FRANSOUFER
(1958), pintor e escultor. Luís Carlos Lima Santos (1940),
escultor e artesão; Ciro do Espírito
Santo Falcão (1952), pintor, poeta e
gravador; Rogério Martins (1956), pintor e professor de desenho e
pintura; Dileuza Diniz Rodrigues
(1939), pintora e gravadora (litografia).
A arte Gororoba
No final dos anos de 1970, alguns
jovens artistas maranhenses engajados com causas políticossociais realizaram algumas
exposições artísticas intituladas Gororoba. A respeito dessa época, Costa informa
que,
A arte da
década de 1970 foi conduzida por temas que mobilizaram a sociedade em seu
contexto cultural como: repressões sociais, o sentimento de euforia provocado
pelos avanços da tecnologia, o consumismo e a desigualdade social, além do
sentido de revolta e protesto, característicos das insatisfações políticas.[4]
Com esse pensamento e
finalidade, os artistas Murilo Santos, Ciro Falcão, Joaquim Santos, João
Ewerton e César Teixeira montaram em junho de 1977, na Galeria Eney Santana, a mostra
de arte Gororoba com trabalhos em
cerâmica, cinema, fotografia, gravura, desenho, pintura e instalações abordando
temáticas de denúncia e protesto, causando certo estranhamento naqueles que
foram apreciar os trabalhos.
Em 1978, na mesma
galeria, aconteceu a segunda Gororoba. Para
maior compreensão dessa exposição, reproduzimos na integra a matéria do Jornal
O Estado do Maranhão, de 17 de junho de 1978, p.9:
HOJE TEM GOROROBA? TEM SIM SENHOR[5]
Hoje, às vinte
horas será aberta na galeria de arte “Eney Santana”, anexa ao Teatro Artur
Azevedo, a II GOROROBA – exposição de trabalhos de quatorze artistas
maranhenses. O salão a ser apresentado ao público de São Luís reúne, entre
outras formas de arte, a pintura, escultura, cartuns, pirogravuras e o cinema,
havendo em cada trabalho a preocupação de mostrar um momento sócio-cultural do
povo maranhense.
Reunidos na
noite passada, os expositores discutiam os últimos pontos da mostra e davam os
retoques finais na disposição das peças na galeria. Tendo como temática o
enfoque social e sua problemática, a segunda Gororoba visa ser uma opção para
os artistas maranhenses comprometidos com a sua realidade exibirem seus
trabalhos de uma forma mais liberal e, acima de tudo, responsável.
- O
começo –
Entre 25 de
junho a 10 de julho do ano passado realizou-se a Primeira Gororoba com a
participação dos artistas plásticos João Ewerton, Joaquim Santos, César
Teixeira, com trabalhos em cerâmica e pintura, além do fotógrafo Murilo Santos.
A exposição foi, naquela época, uma experiência muito rica para esses artistas
que puderam fazer uma reflexão sobre o trabalho, baseados na forma como eles
foram captados pelo público visitante. Era uma forma de trabalho popular, “sem
apelar para o popularesco” – como definiu um artista local.
O fotógrafo
Murilo Santos, um dos participantes da primeira Gororoba nos fala que essa
experiência de agora “é a continuidade da primeira. Claro que ela se renovou,
explorando os temas de uma forma mais objetiva. Demos também um sentido de
maior abertura para quem trabalha com a cultura em São Luís. Procuramos
desta vez convidar mais pessoas para participar da exposição, considerando que
a Gororoba não é uma mostra fechada, de uma pessoa ou outra, mas de quem dela
quiser participar, dentro da linha de trabalho definida pela maioria, com uma
arte engajada na nossa realidade”. Com um grupo de pessoas que chega a superar
o dobro da do ano passado, a Segunda Gororoba é mais uma vez realizada sem
nenhuma ajuda oficial. “Tudo está sendo realizado pelo esforço de cada um, o
que indica que a coisa é produzida com maior liberdade”. – conta outro
participante.
-revista
e super oito-
Além das
expressões de arte, em várias expressões, será lançada durante a mostra uma
revista organizada por seus participantes, que conterá matérias de interesse,
abordando dentre outros assuntos, a temática utilizada na exposição.
São
responsáveis pela revista os universitários de Comunicação Social, Euclides
Barbosa Moreira Neto, e Antonio Carlos Gomes de Lima e o universitário de
Direito, Luís Carlos Santos Cintra.
Serão exibidos
também alguns filmes em
super-8. Luís Carlos Cintra mostrará “Fábricas”, Euclides
Moreira, “Mutação”, “O Edifício São Luís” e um documentário sobre habitações na
periferia da Ilha.
Miguel Veiga,
Joaquim Santos, Roldão Lima, João Ewerton, Murilo Santos, César Teixeira,
Ribamar Cordeiro, Cruz Neto, Érico, Paulo César, Chico Franco e Edgar Rocha são
os expositores da Segunda Gororoba, que será aberta neste próximo sábado. A
entrada é franca para os interessados e o público em geral.
Segundo Murilo Santos [6]
esse mesmo grupo realizou um salão de humor que foi fechado pela polícia. O
salão foi organizado no Museu Histórico e antes de abrir, um censor proibiu a
maioria dos trabalhos de serem exibidos. Então o grupo decidiu não abrir a
exposição. Porém, Murilo relata que esta atitude acabou causando um grande
frisson porque foi aberto veladamente e muita gente foi olhar e acabou tendo
uma repercussão grande, o primeiro salão de humor.
A arte após 1980 em São Luís
A
ludovicense atual é bastante variada, existem artistas trabalhando diversas
linguagens, mesclando técnicas, estilos e propostas. A esse panorama pertencem:
Paulo César Alves de Carvalho, Miguel
Estefânio Veiga Filho, Rosilan Mota Garrido e Edson de
Jesus Mondêgo.
Além dos
nomes citados, são reconhecidos atualmente: Donato, Lobato, Cordeiro do Maranhão, Fábio Vidotti, Cláudio Costa, Adiel
Belo, Ana Borges, Ednilson Costa, Raimunda Fortes, Regis Costa Oliveira,
Adrianna Karlem, Maciel Pinheiro, Thiago Martins, Nadilton Bezerra, Edivaldo
di Jesus, Amâncio de Aquino, Valdinano, Herbert
Reis, Alain Moreira Lima e outros.
A Coletiva de Maio
De 1991 a 1996, a
Universidade Federal do Maranhão, realizou no Convento das Mercês, a Coletiva
de Maio, principal evento do campo das artes visuais em São Luís , na década de
1990. Teve nos dois primeiros anos, a seleção das obras premiadas por júri
popular; nos dois anos seguintes, júri popular e técnico; e nos dois últimos
anos, somente júri técnico. Prestou homenagens a Maia Ramos em 1995 e a
Floriano Teixeira em 1996.
Essa Mostra possibilitou
o acesso ao que havia de mais novo nas artes visuais em São Luís e propiciou
aos artistas, oportunidade de mostrarem suas obras a um grande público.
A Mostra do Redescobrimento Brasil +
500 anos
Em 2000, a Fundação
Bienal de São Paulo[7] montou a
Mostra do Redescobrimento Brasil + 500 anos, como parte das comemorações dos
500 anos do início da colonização portuguesa no Brasil.
Essa mostra era dividida
em 12 Módulos: Arqueologia, Artes Indígenas, Arte Popular, Barroco, Século XIX,
Olhar Distante, Arte Moderna, Arte Contemporânea, Arte Afro-brasileira, Negro
de Corpo e Alma, Imagens do Inconsciente e Carta de Caminha (com páginas da
Carta de Pero Vaz de Caminha e releituras da Carta executadas por doze artistas
brasileiros e doze artistas portugueses).
A
cidade de São Luís recebeu no Convento das Mercês, no período de dezembro de
2000 e julho de 2001, uma amostragem dessa exposição, com obras de todos os
módulos da exposição original montada em São Paulo.
Dessa exposição
participaram os artistas maranhenses: Ciro Falcão, Donato, Miguel Veiga,
Marlene Barros, Edivaldo de Jesus, Adrianna Karlem, Thiago Martins, Edina
Scarpati, Régis Costa Oliveira e Rosilan Garrido com obras selecionadas por
meio de uma comissão julgadora e que representavam releituras da Carta de
Caminha. As quais substituíram, a partir de março de 2001, as releituras
anteriores.
A
Mostra do Redescobrimento foi um expressivo evento em artes visuais realizado
em São Luís e permitiu ao público,[8]
especialmente aqueles que não tem o hábito de visitar museus e galerias, uma
oportunidade rara de ver obras de artistas conceituados como: Pedro Américo,
Amílcar de Castro, Celso Antônio de Menezes, Lasar Segall, Leon Righini e
Victor Brecheret.
Mostra Artística Oito de Março
Esta Mostra é realizada no mês de março, em São Luís desde 2003, por um
grupo de mulheres artistas para chamar a atenção da sociedade para aspectos
ligados ao “universo feminino, e através de um
primeiro contato com a obra o espectador vai sentir um estranhamento, mas em
seguida pretendemos levá-lo a um questionamento, que esperamos leve a uma
mudança de comportamento.[9]
O grupo era formado por oito artistas: as fundadoras, Marlene Barros,
Rosilan Garrido, Ana Borges, Romana Maria, Dila e Edina Scarpati.
Posteriormente juntaram-se a elas Adrianna Karlem e Renata Jatahy (falecida em
2009). Ao longo dos anos elas têm abordado vários temas ligados ao universo
feminino, por meio de instalações, objetos, vídeos, telas e outras formas de
expressão artística. Segundo as palavras de Marlene Barros[10] a
cronologia dessas mostras até o ano de 2007 foi a seguinte:
No ano de 2003, o título (tema) foi A SEDUÇÃO. Uma questão
presente no cotidiano feminino, e que foi abordada por diversas formas.
Em 2004: – O BANQUETE – “foi um trabalho muito prazeroso,
realizado na Galeria do Palacete Gentil Braga onde cada artista realizou uma
obra comestível. Toda a comilança foi filmada e transmitida simultaneamente num
telão na galeria.”[11]
No ano seguinte (2005), o título foi: – O GRITO. As mulheres
artistas e convidados realizaram uma passeata silenciosa pela Rua Grande. Cada
mulher usava uma tarja preta amarrada na boca, com a palavra Grite,
escrita em branco; e distribuição de panfletos escritos pelas artistas.
CALCINHAS foi o tema\título de 2006: as artistas foram para a
Praça Nauro Machado expor cerca de mil calcinhas, “entregues anteriormente a
mulheres de várias classes sociais, que fizeram várias obras e nos
devolveram, cada uma dentro do seu universo e de suas limitações, um trabalho
para a exposição;”[12]
No ano seguinte, “voltamos à Galeria Nagy Lajos por uma causa
nobre, reabrir a galeria com a exposição: SEGUNDA PELE, onde cada artista trabalhou o
vestido sobre várias ópticas;”[13]
Esse grupo de artistas continua anualmente realizando suas
exposições e defendendo o espaço feminino na sociedade. No ano de 2010
prestaram uma homenagem à Renata Jatahy falecida no ano anterior.
Outras
iniciativas vem acontecendo no campo das artes visuais nos dias atuais na
capital maranhense, como é o caso do Salão de Artes Plásticas de São Luís, que
em 2012 realizou a sua terceira edição.
[1] Em 2010
foram extintas as categorias de pintura e escultura, que passaram a compor o
Salão de Artes Plásticas de São Luís. Foi, no entanto incluída uma premiação
para trabalhos de pesquisa sobre artistas, obras e períodos da arte maranhense.
[2] Na
década de 1980 se transformaria em Curso de Licenciatura em Educação Artística
com habilitação em Desenho e Artes Plásticas. Atualmente existem três
graduações em Arte, na Ufma: Teatro, Artes Visuais e Música.
[3] Ao
lado dos artistas maranhenses Ambrósio Amorim, José João dos Santos Lobato e
Jesus Santos.
[4]COSTA,
Francisca da Silva. Grupo gororoba:
uma mostra da produção artística contemporânea maranhense. Monografia
(Especialização em História do Maranhão) – Universidade Estadual do Maranhão,
São Luís, 2005, p. 40.
[5]
Matéria não assinada.
[6]
ENTREVISTA concedida em julho de 2005. In: Costa, 2005.
[7] -
Posteriormente passou a ser coordenada pela Associação Brasil + 500 anos Artes
Visuais.
[8] - Durante a visitação à Mostra, os visitantes eram
acompanhados pelos monitores que contribuíam para a apreciação e leitura das
obras expostas.
[9]
ENTREVISTA concedida pela artista Marlene Barros, em setembro de 2007.
[10] Id. Ibid.
[11] Id. Ibid.
[12] Id. Ibid.
[13] Id.
Ibid.
2 comentários:
Tenho orgulho em comentar sobre o gênio professor Newton Pavão e suas obras como sobrinha 👍👍👍
Tenho orgulho em comentar sobre o gênio professor Newton Pavão e suas obras como sobrinha 👍👍👍
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