Os primeiros artistas[1]
de São Luís foram os Tupinambás, autores de produções em cerâmica, pintura
corporal, plumária, música, trançados, tecelagem e algumas outras expressões
artísticas. Essas produções de natureza estética, funcional e simbólica
pertenciam aos seus universos naturais e sobrenaturais.
Uma arte bastante
desenvolvida pelos tupinambás era a plumária, confeccionada e usada,
principalmente, pelos homens nos momentos festivos: dias de cauim, matança de
inimigos, partida para a guerra, furação de lábio de crianças, e demais eventos
solenes.
Os adornos plumários eram
produzidos com diversas penas coloridas organizadas de maneira simétrica, e
tecidos na parte interna com fios de algodão, semelhante à trama de uma rede de
pescar. O mais belo desses adornos era o Assoiave [Açoiába], produzidos com
penas de guará e algumas outras. Possivelmente, era utilizado somente em
momentos festivos e solenes.
Bem expressivas também
eram as suas pinturas corporais, executadas pelas mulheres sobre si e também
sobre os demais indivíduos tupinambás. Pintam o rosto e o corpo, na convicção
de se embelezarem. “Trazem alguns a face rajada de vermelho e negro; outros
pintam apenas uma metade do corpo e do rosto e deixam a outra metade com sua
côr natural.”[2]
Outros pintam “o corpo
inteiro de figuras, da cabeça aos joelhos e assim ficam como se estivessem
vestidos com uma roupa de Pantalon, de cetim prêto estampado. Quanto às mãos e
às pernas, pintam-nas com o suco do genipapo.”[3]
Mas, “nem sempre andam pintados, e
sim quando querem, e uns mais que os outros, e principalmente as raparigas mais
do que todos.”[4] Era
portanto uma arte que caracterizava momentos específicos e também indivíduos
por sexo e idade.
Um dos momentos mais
significativos para os Tupinambás “exibirem” a sua arte eram guerras, para as
quais, eles assim se adornavam:
Para a cabeça
usam de uma peruca ou cabeleira de penas de cores vermelhas, amarelas,
verde-gaio e violetas, que prendem aos cabelos com uma espécie de cola ou
grude.
Enfeitam a
testa com grandes penas de araras e outros pássaros semelhantes, de cores
variadas e dispostas à maneira de mitra, que amarram atrás da cabeça. Nos
braços atam braceletes também de penas de diversas cores, tecidas com fio de
algodão, semelhante à mitra de que acabamos de falar. [5]
Colocavam
na altura dos rins outro adorno plumário, o qual formava “uma roda de penas de
cauda de ema presa por dois fios de algodão tintos de vermelho, cruzando-se
pelos ombros [...], de sorte que aos vê-los emplumados, dir-se-ia que são emas
que só tem penas nestas três partes do corpo”.[6]
[1] Esse termo não é aqui utilizado como categoria
profissional, e sim para se referir a qualquer indivíduo que produza objetos
estéticos para os mais diversos momentos e finalidades.
[2] D’ABBEVILLE, Claude. História da missão dos padres capuchinhos
na ilha do Maranhão. São Paulo:
Siciliano, 2002, p. 262.
[3] Id.Ibid., p. 262.
[4] Id. Ibid., p 262.
[5] D’EVREUX, Yves. Viagem
ao norte do Brasil: feita nos anos de 1613 a 1614; com colaboração
de Ferdinand Denis; traduzida por César Augusto Marques. São Paulo: Siciliano,
2002, p. 78.
[6] Id. Ibid., p. 79.
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