sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
HIBERNANDO
Há alguns meses que não apareço por aqui para fazer novas postagens, mas espero em 2014 trazer algumas novidades, principalmente sobre o panorama atual das artes visuais no Maranhão. Quem sabe talvez ainda este ano eu consiga postar algo sobre o IV Salão de Artes de São Luís que depois de se arrastar por incontáveis meses finalmente será aberto.
domingo, 16 de junho de 2013
ARTE MARANHENSE NOs SÉCULOS XX E XXI
A arte dos anos de 1970 em São Luís
Na década de 1970, a cidade
de São Luís foi beneficiada no campo artístico, com a criação alguns núcleos,
salões e centros de produção e formação artística, sendo os principais, o
Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís[1],
criado em 1955 por lei municipal. Mas realizado somente a partir de 1974 pela Prefeitura
de São Luís, por meio da Fundação Municipal de Cultura (FUNC).
No governo de Pedro
Neiva de Santana (1971-1975) foram criados pela Primeira-Dama Eney Tavares de
Santana, o Núcleo de Tapeçaria em 1972, localizava-se no Palácio dos Leões; e a Galeria Eney Santana, criada na mesma
época, era situada no Teatro Arthur Azevedo.
Em 1970 foi criado
na Universidade Federal do Maranhão, o curso de Desenho e plásticas[2],
contribuindo para a formação de artistas como Rosilan Garrido, Ana Borges,
Lobato, Donato, Paulo César, Eugênio Araújo e outros.
Foi criado o Centro de
Artes e Comunicações Visuais do Estado (CENARTE), em 1979, pelo governador João
Castelo, com objetivos de intercambiar os artistas locais com artistas de
outros estados. Além de promover cursos e oficinas, foi posteriormente
transformado no Centro de Criatividade Odylo Costa, filho.
Em 1972, Rosa Mochel,
Fátima Frota e Péricles Rocha idealizaram um centro de artes que foi criado
pelo prefeito Haroldo Tavares. Este centro recebeu o nome Japiaçu, em homenagem ao já comentado líder tupinambá.
A arte de São Luís desse
período foi favorecida ainda pela chegada do artista húngaro Nagy Lajos Endre
(1925 –1989). Ele foi professor de vários jovens artistas e contribuiu também
para a criação da Associação dos Artistas Plásticos do Maranhão em 1976[3].
Seu atelier, na Rua dos Afogados, era ponto de encontro para discussão, troca de ideias
e aulas de pintura.
Os principais nomes desse
período são: José de Jesus Santos
(1950), pintor e gravador; Marlene
Barros Ribeiro (1952) trabalha com várias técnicas e estilos; Airton Marinho Macedo (1952), gravador
na técnica da xilogravura; Péricles Augusto
Almeida Rocha (1946), pintor,
desenhista e escultor; Francisco de Sousa Ferreira - FRANSOUFER
(1958), pintor e escultor. Luís Carlos Lima Santos (1940),
escultor e artesão; Ciro do Espírito
Santo Falcão (1952), pintor, poeta e
gravador; Rogério Martins (1956), pintor e professor de desenho e
pintura; Dileuza Diniz Rodrigues
(1939), pintora e gravadora (litografia).
A arte Gororoba
No final dos anos de 1970, alguns
jovens artistas maranhenses engajados com causas políticossociais realizaram algumas
exposições artísticas intituladas Gororoba. A respeito dessa época, Costa informa
que,
A arte da
década de 1970 foi conduzida por temas que mobilizaram a sociedade em seu
contexto cultural como: repressões sociais, o sentimento de euforia provocado
pelos avanços da tecnologia, o consumismo e a desigualdade social, além do
sentido de revolta e protesto, característicos das insatisfações políticas.[4]
Com esse pensamento e
finalidade, os artistas Murilo Santos, Ciro Falcão, Joaquim Santos, João
Ewerton e César Teixeira montaram em junho de 1977, na Galeria Eney Santana, a mostra
de arte Gororoba com trabalhos em
cerâmica, cinema, fotografia, gravura, desenho, pintura e instalações abordando
temáticas de denúncia e protesto, causando certo estranhamento naqueles que
foram apreciar os trabalhos.
Em 1978, na mesma
galeria, aconteceu a segunda Gororoba. Para
maior compreensão dessa exposição, reproduzimos na integra a matéria do Jornal
O Estado do Maranhão, de 17 de junho de 1978, p.9:
HOJE TEM GOROROBA? TEM SIM SENHOR[5]
Hoje, às vinte
horas será aberta na galeria de arte “Eney Santana”, anexa ao Teatro Artur
Azevedo, a II GOROROBA – exposição de trabalhos de quatorze artistas
maranhenses. O salão a ser apresentado ao público de São Luís reúne, entre
outras formas de arte, a pintura, escultura, cartuns, pirogravuras e o cinema,
havendo em cada trabalho a preocupação de mostrar um momento sócio-cultural do
povo maranhense.
Reunidos na
noite passada, os expositores discutiam os últimos pontos da mostra e davam os
retoques finais na disposição das peças na galeria. Tendo como temática o
enfoque social e sua problemática, a segunda Gororoba visa ser uma opção para
os artistas maranhenses comprometidos com a sua realidade exibirem seus
trabalhos de uma forma mais liberal e, acima de tudo, responsável.
- O
começo –
Entre 25 de
junho a 10 de julho do ano passado realizou-se a Primeira Gororoba com a
participação dos artistas plásticos João Ewerton, Joaquim Santos, César
Teixeira, com trabalhos em cerâmica e pintura, além do fotógrafo Murilo Santos.
A exposição foi, naquela época, uma experiência muito rica para esses artistas
que puderam fazer uma reflexão sobre o trabalho, baseados na forma como eles
foram captados pelo público visitante. Era uma forma de trabalho popular, “sem
apelar para o popularesco” – como definiu um artista local.
O fotógrafo
Murilo Santos, um dos participantes da primeira Gororoba nos fala que essa
experiência de agora “é a continuidade da primeira. Claro que ela se renovou,
explorando os temas de uma forma mais objetiva. Demos também um sentido de
maior abertura para quem trabalha com a cultura em São Luís. Procuramos
desta vez convidar mais pessoas para participar da exposição, considerando que
a Gororoba não é uma mostra fechada, de uma pessoa ou outra, mas de quem dela
quiser participar, dentro da linha de trabalho definida pela maioria, com uma
arte engajada na nossa realidade”. Com um grupo de pessoas que chega a superar
o dobro da do ano passado, a Segunda Gororoba é mais uma vez realizada sem
nenhuma ajuda oficial. “Tudo está sendo realizado pelo esforço de cada um, o
que indica que a coisa é produzida com maior liberdade”. – conta outro
participante.
-revista
e super oito-
Além das
expressões de arte, em várias expressões, será lançada durante a mostra uma
revista organizada por seus participantes, que conterá matérias de interesse,
abordando dentre outros assuntos, a temática utilizada na exposição.
São
responsáveis pela revista os universitários de Comunicação Social, Euclides
Barbosa Moreira Neto, e Antonio Carlos Gomes de Lima e o universitário de
Direito, Luís Carlos Santos Cintra.
Serão exibidos
também alguns filmes em
super-8. Luís Carlos Cintra mostrará “Fábricas”, Euclides
Moreira, “Mutação”, “O Edifício São Luís” e um documentário sobre habitações na
periferia da Ilha.
Miguel Veiga,
Joaquim Santos, Roldão Lima, João Ewerton, Murilo Santos, César Teixeira,
Ribamar Cordeiro, Cruz Neto, Érico, Paulo César, Chico Franco e Edgar Rocha são
os expositores da Segunda Gororoba, que será aberta neste próximo sábado. A
entrada é franca para os interessados e o público em geral.
Segundo Murilo Santos [6]
esse mesmo grupo realizou um salão de humor que foi fechado pela polícia. O
salão foi organizado no Museu Histórico e antes de abrir, um censor proibiu a
maioria dos trabalhos de serem exibidos. Então o grupo decidiu não abrir a
exposição. Porém, Murilo relata que esta atitude acabou causando um grande
frisson porque foi aberto veladamente e muita gente foi olhar e acabou tendo
uma repercussão grande, o primeiro salão de humor.
A arte após 1980 em São Luís
A
ludovicense atual é bastante variada, existem artistas trabalhando diversas
linguagens, mesclando técnicas, estilos e propostas. A esse panorama pertencem:
Paulo César Alves de Carvalho, Miguel
Estefânio Veiga Filho, Rosilan Mota Garrido e Edson de
Jesus Mondêgo.
Além dos
nomes citados, são reconhecidos atualmente: Donato, Lobato, Cordeiro do Maranhão, Fábio Vidotti, Cláudio Costa, Adiel
Belo, Ana Borges, Ednilson Costa, Raimunda Fortes, Regis Costa Oliveira,
Adrianna Karlem, Maciel Pinheiro, Thiago Martins, Nadilton Bezerra, Edivaldo
di Jesus, Amâncio de Aquino, Valdinano, Herbert
Reis, Alain Moreira Lima e outros.
A Coletiva de Maio
De 1991 a 1996, a
Universidade Federal do Maranhão, realizou no Convento das Mercês, a Coletiva
de Maio, principal evento do campo das artes visuais em São Luís , na década de
1990. Teve nos dois primeiros anos, a seleção das obras premiadas por júri
popular; nos dois anos seguintes, júri popular e técnico; e nos dois últimos
anos, somente júri técnico. Prestou homenagens a Maia Ramos em 1995 e a
Floriano Teixeira em 1996.
Essa Mostra possibilitou
o acesso ao que havia de mais novo nas artes visuais em São Luís e propiciou
aos artistas, oportunidade de mostrarem suas obras a um grande público.
A Mostra do Redescobrimento Brasil +
500 anos
Em 2000, a Fundação
Bienal de São Paulo[7] montou a
Mostra do Redescobrimento Brasil + 500 anos, como parte das comemorações dos
500 anos do início da colonização portuguesa no Brasil.
Essa mostra era dividida
em 12 Módulos: Arqueologia, Artes Indígenas, Arte Popular, Barroco, Século XIX,
Olhar Distante, Arte Moderna, Arte Contemporânea, Arte Afro-brasileira, Negro
de Corpo e Alma, Imagens do Inconsciente e Carta de Caminha (com páginas da
Carta de Pero Vaz de Caminha e releituras da Carta executadas por doze artistas
brasileiros e doze artistas portugueses).
A
cidade de São Luís recebeu no Convento das Mercês, no período de dezembro de
2000 e julho de 2001, uma amostragem dessa exposição, com obras de todos os
módulos da exposição original montada em São Paulo.
Dessa exposição
participaram os artistas maranhenses: Ciro Falcão, Donato, Miguel Veiga,
Marlene Barros, Edivaldo de Jesus, Adrianna Karlem, Thiago Martins, Edina
Scarpati, Régis Costa Oliveira e Rosilan Garrido com obras selecionadas por
meio de uma comissão julgadora e que representavam releituras da Carta de
Caminha. As quais substituíram, a partir de março de 2001, as releituras
anteriores.
A
Mostra do Redescobrimento foi um expressivo evento em artes visuais realizado
em São Luís e permitiu ao público,[8]
especialmente aqueles que não tem o hábito de visitar museus e galerias, uma
oportunidade rara de ver obras de artistas conceituados como: Pedro Américo,
Amílcar de Castro, Celso Antônio de Menezes, Lasar Segall, Leon Righini e
Victor Brecheret.
Mostra Artística Oito de Março
Esta Mostra é realizada no mês de março, em São Luís desde 2003, por um
grupo de mulheres artistas para chamar a atenção da sociedade para aspectos
ligados ao “universo feminino, e através de um
primeiro contato com a obra o espectador vai sentir um estranhamento, mas em
seguida pretendemos levá-lo a um questionamento, que esperamos leve a uma
mudança de comportamento.[9]
O grupo era formado por oito artistas: as fundadoras, Marlene Barros,
Rosilan Garrido, Ana Borges, Romana Maria, Dila e Edina Scarpati.
Posteriormente juntaram-se a elas Adrianna Karlem e Renata Jatahy (falecida em
2009). Ao longo dos anos elas têm abordado vários temas ligados ao universo
feminino, por meio de instalações, objetos, vídeos, telas e outras formas de
expressão artística. Segundo as palavras de Marlene Barros[10] a
cronologia dessas mostras até o ano de 2007 foi a seguinte:
No ano de 2003, o título (tema) foi A SEDUÇÃO. Uma questão
presente no cotidiano feminino, e que foi abordada por diversas formas.
Em 2004: – O BANQUETE – “foi um trabalho muito prazeroso,
realizado na Galeria do Palacete Gentil Braga onde cada artista realizou uma
obra comestível. Toda a comilança foi filmada e transmitida simultaneamente num
telão na galeria.”[11]
No ano seguinte (2005), o título foi: – O GRITO. As mulheres
artistas e convidados realizaram uma passeata silenciosa pela Rua Grande. Cada
mulher usava uma tarja preta amarrada na boca, com a palavra Grite,
escrita em branco; e distribuição de panfletos escritos pelas artistas.
CALCINHAS foi o tema\título de 2006: as artistas foram para a
Praça Nauro Machado expor cerca de mil calcinhas, “entregues anteriormente a
mulheres de várias classes sociais, que fizeram várias obras e nos
devolveram, cada uma dentro do seu universo e de suas limitações, um trabalho
para a exposição;”[12]
No ano seguinte, “voltamos à Galeria Nagy Lajos por uma causa
nobre, reabrir a galeria com a exposição: SEGUNDA PELE, onde cada artista trabalhou o
vestido sobre várias ópticas;”[13]
Esse grupo de artistas continua anualmente realizando suas
exposições e defendendo o espaço feminino na sociedade. No ano de 2010
prestaram uma homenagem à Renata Jatahy falecida no ano anterior.
Outras
iniciativas vem acontecendo no campo das artes visuais nos dias atuais na
capital maranhense, como é o caso do Salão de Artes Plásticas de São Luís, que
em 2012 realizou a sua terceira edição.
[1] Em 2010
foram extintas as categorias de pintura e escultura, que passaram a compor o
Salão de Artes Plásticas de São Luís. Foi, no entanto incluída uma premiação
para trabalhos de pesquisa sobre artistas, obras e períodos da arte maranhense.
[2] Na
década de 1980 se transformaria em Curso de Licenciatura em Educação Artística
com habilitação em Desenho e Artes Plásticas. Atualmente existem três
graduações em Arte, na Ufma: Teatro, Artes Visuais e Música.
[3] Ao
lado dos artistas maranhenses Ambrósio Amorim, José João dos Santos Lobato e
Jesus Santos.
[4]COSTA,
Francisca da Silva. Grupo gororoba:
uma mostra da produção artística contemporânea maranhense. Monografia
(Especialização em História do Maranhão) – Universidade Estadual do Maranhão,
São Luís, 2005, p. 40.
[5]
Matéria não assinada.
[6]
ENTREVISTA concedida em julho de 2005. In: Costa, 2005.
[7] -
Posteriormente passou a ser coordenada pela Associação Brasil + 500 anos Artes
Visuais.
[8] - Durante a visitação à Mostra, os visitantes eram
acompanhados pelos monitores que contribuíam para a apreciação e leitura das
obras expostas.
[9]
ENTREVISTA concedida pela artista Marlene Barros, em setembro de 2007.
[10] Id. Ibid.
[11] Id. Ibid.
[12] Id. Ibid.
[13] Id.
Ibid.
ARTE MARANHENSE NO SÉCULO XX
Artistas migrantes
A partir do inicio do
século XX, alguns artistas buscando uma formação melhor, além do que era
ensinado em São Luís ,
migraram para o Rio de Janeiro (capital do Brasil à época e sede da ENBA) e São
Paulo, cidade precursora do modernismo brasileiro. A essa geração pertencem[1]:
Celso
Antonio de Menezes (Caxias, MA, 1896 – Rio de Janeiro, 1984), escultor; João Lázaro de Figueiredo (São Luís,
MA, 1911 – Fortaleza, CE, 1981), pintor e cenógrafo; Fernando Clóvis Pereira
(São Luís, MA, 1917), pintor; Sebastião
Zaque Pedro (Cururupu, MA, 1921 – São Luís, MA, 1950), pintor; Newton Sá (Colinas, MA, c. 1908 – Rio
de Janeiro, 1940), escultor; Flory
Lisboa Gama (Vargem Grande, MA, 1916
– Rio de Janeiro, 1996), escultor; João Batista
de Deus (Brejo, MA, 1896 -?),
desenhista e pintor sacro. Jorge Ferreira Brandão (São Luís, MA, 1936 – São
Paulo, 1992), pintor e cenógrafo.
Movimentos e associações artísticos culturais de São Luís
Muitos dos artistas que
migraram para o Sudeste retornaram a São Luís, e acabaram exercendo algum tipo
de influência sobre o panorama artístico local[2].
Outras influências foram adquiridas por meio de alguns livros sobre arte
moderna. Existiam também alguns empresários admiradores das artes que ajudavam
os artistas.
Um desses empresários foi
o comerciante Paulo Abreu, proprietário da Loja Rianil, situada à Rua Grande, nº. 44, onde constantemente se
expunham obras de arte.
Havia a Farmácia
Sanitária do Sr. Jesus Norberto Gomes, localizava-se na Praça João Lisboa, onde
funciona atualmente a Caixa Econômica Federal
Ela foi fundada em 1921 e
funcionou até o início dos anos 1980. Nas suas vitrines eram expostos trabalhos
artísticos. Nessa farmácia era fabricado o famoso refrigerante guaraná Jesus,
cujo logotipo foi criado pelo pintor Ambrósio Amorim, em 1944.
Existiram outros
estabelecimentos como pontos de encontro de artistas e intelectuais: o Bar do Castro, situado na Rua do Sol,
nº. 83, funcionou de 1947 a
1963. O seu proprietário era o espanhol
Leôncio Cid Castro; e o Moto Bar, em
frente à igreja do Carmo.
Vale citar ainda, a Sociedade
de Cultura Artística do Maranhão (SCAM), criada e patrocinada por Lilah Lisboa
de Araújo (1898 - 1979)[3].
Realizou salões de artes plásticas de 1950 a 1954. E a Movelaria Guanabara, de propriedade do pintor Pedro Paiva.
Entre os freqüentadores
da Movelaria, consta: Floriano Teixeira
(1923 – 2000), pintor, desenhista, gravador, ilustrador e escultor; Cadmo Castro Silva (1921-?), desenhista e pintor; Antonio Alves de Almeida
(1922 – 2009), pintor, escultor, muralista, gravador, ilustrador, ceramista e
entalhador; Yêdo Figueiredo Saldanha (1930-?), gravador, pintor,
desenhista, cenógrafo e decorador; Ambrósio
Amorim (1922 –2003), pintor, foi aluno de Newton Pavão; e Pedro
Alves de Paiva Filho (1914-?),
pintor.
[1] Maiores
informações ver CANTANHEDE (2008).
[2] E
mesmo alguns que não retornaram, serviram como inspiração para os jovens
iniciantes, através dos seus sucessos noticiados nos jornais de São Luís.
[3] pianista
e promotora de saraus no seu solar localizado na Rua do Giz. Onde atualmente
funciona a Escola de Música do Maranhão. Foi aluna de Heitor Vila Lobos.
sexta-feira, 7 de junho de 2013
ESCOLA DE BELAS ARTES DO MARANHÃO
No século XIX, São Luís não foi contemplada com a criação de
nenhuma escola ou academia de belas artes, embora houvesse bom número de
artistas estrangeiros e maranhenses. No entanto, tal panorama mudaria ainda no
primeiro quartel do século XX, com chegada em 1915, do pintor cearense José de Paula
Barros (c. 1875 - 1926), procedente de Belém do Pará.
Esse artista fixou residência em São Luís e fundou no
mesmo ano de sua chegada uma escola de desenho e pintura[1],
contribuindo assim para a formação de vários artistas.
Posteriormente, Paula Barros
participou da criação da Escola de Belas Artes do Maranhão, juntamente com José
Lentini, Fran Paxeco, Da Costa e Silva, Antonio Lopes, Jacinto Aguiar,
Francisco Furiati e outros.
Essa instituição foi criada em 1922 e
funcionou por cerca de oito anos, primeiramente no Casino Maranhense e a partir
de 1926 no prédio onde funcionou o Instituto Histórico e Geográfico do
Maranhão, na Avenida Magalhães de Almeida. Posteriormente, a Academia de Belas Artes
foi reativada por Telesforo de Moraes Rego e alguns outros artistas.
Pelas suas próprias limitações, essa
Escola oferecia apenas três cursos: música, artes plásticas e declamação. Paula
Barros ministrava desenho e pintura. Além dele, lecionaram também nessa escola,
os seus ex-alunos Levy Damasceno Ferreira, Rubens Damasceno Ferreira e Arthur
Marinho.
Os discípulos de Paula Barros e a pintura de casario
Em
São Luís, o casario é um tema bastante comum em pinturas, gravuras, fotografias
e desenhos. Os primórdios desse gênero pictórico são encontrados ainda no
século XIX, nas paisagens e vistas urbanas de Righini e Hagedorn, assim como
nos álbuns fotográficos antigos. No entanto, tornou-se temática recorrente
somente no início do século XX, através das produções e do ensino artístico dos
ex-alunos de Paula Barros.
Desse
grupo de discípulos de Paula Barros destacaram-se: Arthur Marinho, Rubens
Damasceno, Telésforo de Moraes Rêgo Filho, Newton
Coelho Pavão e Amena Varella (Amina Paula Barros),
formadores de gerações de artistas.
Dos artistas citados, Amena Varella,
a única mulher, foi pioneira conseguindo destacar-se num meio totalmente
dominado por homens. Ela conseguiu ter identidade e espaço próprios, superando
preconceitos e provincianismos cristalizados no meio artístico de São Luís.
Vale lembrar que anterior a ela,
apareceram várias mulheres estudantes de desenho e pintura, mas devido às
relações de gênero da sociedade maranhense da época, a mulher até o início do
século XX, tinha a arte na sua formação e execução apenas como uma prenda.
[1]
Funcionava no prédio onde atualmente localiza-se a Academia Maranhense de
Letras e teve duração de dois anos (1915/16).
sexta-feira, 31 de maio de 2013
ARTISTAS OITOCENTISTAS MARANHENSES
A presença de artistas europeus em
São Luís, durante a segunda metade do século XIX, não trouxe grandes
contribuições para o desenvolvimento do panorama artístico local da época, no
entanto, contribuiu para a formação de vários artistas maranhenses. Os
principais nomes dessa geração foram:
José Maria Bílio Júnior, Francisco
Raimundo Diniz, João Manoel da Cunha, Horácio Tribuzi, Francisco Peixoto Franco de Sá, Aluísio Tancredo Belo de Azevedo e João Afonso do Nascimento.
No século XIX, os artistas
estrangeiros e os maranhenses, embora formassem um número razoável, nunca
formaram uma escola de belas artes em São Luís. E sequer havia uma galeria
específica para exposições artísticas, que normalmente eram realizadas em lojas,
armazéns, ateliês e instituições de ensino.
O número de exposições coletivas
citadas pelos jornais da época, também foi bem diminuto, o que indica,
supostamente, certo distanciamento entre eles. As exposições mais
significativas foram:
-
1ª Exposição Provincial Agrícola, Industrial e de Obras de arte, realizada na Casa dos
Educandos Artífices, em 1860;
-
2ª Exposição Provincial Agrícola, Industrial e de Obras de arte,
realizada na Casa dos Educandos Artífices, em 1861;
-
3ª Exposição Provincial Agrícola, Industrial e de Obras de arte,
realizada na Casa dos Educandos Artífices, em 1866;
-
Exposição organizada por Domingos
Tribuzi e Horácio Tribuzi, com trabalhos de seus alunos, em 1872;
-
2ª Festa Popular do Trabalho, realizada na casa dos Educandos
Artífices, 1872;
É importante citar que das exposições
acima, a única específica de arte foi a organizada
por Domingos Tribuzi e Horácio Tribuzi (1872), em todas as outras, as obras de
arte eram expostas ao lado de produtos agrícolas, industriais, manufaturas,
livros e vários outros que compunham as chamadas exposições agrícolas e
industriais.
Existem ainda registros de outras
exposições realizadas naquele século, porém, sem relevância para a história da
arte maranhense.
Naquela época, os artistas buscavam empregos
nos estabelecimentos de ensino, porque as práticas artísticas faziam parte do
currículo escolar, e eles ministravam aulas de desenho e pintura.
Outro mercado importante era a
produção de retratos, gênero bastante encomendado, principalmente, das
personalidades falecidas, de D. Pedro II, ou de figuras da elite local.
Assim como em outros tempos, não havia
incentivos por parte do governo para o campo das artes, exceto algumas pensões
para estudos na Europa.
Assim como governo, as instituições
particulares também não eram muito incentivadoras ou mesmo consumidoras de
obras de artes. Mas esporadicamente adquiriam um ou outro trabalho artístico.
Mas havia exceções como o Hospital
Português[2],
que contratava artistas para retratarem figuras ilustres que prestavam significativos
serviços à Sociedade Humanitária. Tal acervo ficou exposto durante muitos anos
no seu Salão Nobre[3].
No início do século XX, o
Governo do Estado, adquiriu da viúva de Arthur Azevedo, as obras que
pertenceram a ele, uma coleção totalizando 23.119 peças entre gravuras,
pinturas, livros e esculturas.
[1] Fonte:
CANTANHEDE, João Carlos Pimentel. Veredas
Estéticas – fragmentos para uma história social das artes visuais no
Maranhão. São Luís: edição do autor, 2008.
[2]
Hospital Português (de São João de Deus) da Real Sociedade Humanitária 1º de
Dezembro, inaugurado em 31 de outubro de 1869.
[3]
Segundo informações da pesquisadora Franciane Lins, esse acervo foi transferido
para o Consulado Português.
segunda-feira, 6 de maio de 2013
ARTE OITOCENTISTA MARANHENSE - artistas estrangeiros
Joaquim
Cândido Guillobel
(Lisboa, 1787 – Rio de Janeiro, 1859). Militar, desenhista, arquiteto, engenheiro,
e professor. Foi um primeiros artistas vindos a São Luís. Chegou em 1819, na
companhia do Tenente-Coronel do Real Corpo de Engenheiros, Antônio Bernardino
Pereira do Lago. Juntos fizeram o levantamento topográfico da província do
Maranhão, cabendo a Guillobel a função de desenhar os mapas e plantas.
Em São Luís, ele ensinou
desenho e pintura, sendo o precursor neste tipo de ensino na capital
maranhense. Executou uma série de aquarelas representando figuras típicas do
Maranhão.
Senhora conduzida por escravos (cerca de 1820) - Joaquim Candido Guillobel
Posterior a Guillobel,
chegou a São Luís, o italiano Domingos Tribuzi (Roma, c. 1810 – Belém,
1880), pintor, desenhista e professor. Foi possivelmente o artista que mais
contribuiu para o panorama artístico ludovicense no século XIX, através do
ensino, da produção e organização de exposições.
Domingos Tribuzi foi
primeiro artista a sistematizar um ensino de artes plásticas em São Luís.
Sendo, o mestre da primeira geração de pintores maranhenses no século XIX.
Submetendo-se a concurso público, foi aprovado e nomeado professor substituto
(e posteriormente titular) de desenho do Liceu Maranhense.
Além de Guillobel e Tribuzzi,
vários outros artistas estrangeiros tiveram destaque no panorama artístico
ludovicense, dos quais merecem destaque:
O português José de
Albuquerque Cardoso Homem, que chegou a São Luís em 1847. Tornou-se
professor de escultura na Casa dos Educandos Artífices.[1]
Com habilidades em arquitetura, pintura, desenho e escultura, Cardoso Homem
teve como seu principal registro artístico no Maranhão, a reforma do Teatro
União em 1852 (atual Teatro Arthur Azevedo), com auxílio de seus melhores alunos da Casa dos Educandos
Artífices que produziram esculturas em gesso representando alegorias das musas
das artes, além de carrancas e grinaldas.
O italiano, Joseph Leon
Righini (Turim, c. 1820 – Belém, 1884). Pintor, desenhista, gravador,
cenógrafo e fotógrafo. Formado na Academia de Belas-Artes de Turim. Como citado
anteriormente, veio a São Luís como cenógrafo de uma companhia lírica italiana,
em 1856. É autor de importantes vistas de São Luís.
[1] -
Instituição criada em 1841, serviu de internato destinado à formação
profissional e escolar de garotos órfãos e carentes. Possuía especializações em
música, escultura, desenho técnico e oficinas de espingardeiros, sapateiros,
alfaiates, torneiros, carpinteiros e marceneiros, além de alfabetização.
Funcionava no antigo Armazém da pólvora, num largo do Caminho Grande (atual Praça
da República, no bairro do Diamante.
domingo, 5 de maio de 2013
AS ARTES VISUAIS EM SÃO LUÍS: Parte II – a arte colonial maranhense
Posterior à arte tupinambá em São
Luís, temos a arte sacra católica, manifestada na arquitetura das igrejas e
conventos, nas pinturas de forro, nos altares, e principalmente na imaginária. A
qual por influência dos artesãos índios, negros e mestiços, adquiriu
características próprias:
cabelos enrolados e caídos sobre os ombros, bochechas grandes, roliças e
arredondadas, proporções atarracadas, olhos amendoados, rosto largo, orelhas cobertas
pelos cabelos e pescoço grosso.
Um dos poucos artistas
conhecidos do período colonial não pertencente ao campo da arte sacra foi José Luiz da Rocha (1744 – primeiro
quartel do século XIX). Sobre esse artista e as suas produções, Coutinho
comenta:
Para que seu nome ficasse, como agora fica
registrado nas páginas de nossa história, basta que alguém contemple com os
olhos e espírito de artista as belezas das fontes das Pedras e do Ribeirão,
nascidas, em sua prancha de desenhista, de sua maestria como construtor civil.
A primeira, a das Pedras [...], não era, nem poderia ser, nenhuma obra de arte,
senão uma bica a jorrar da encosta da ladeira da rua das Crioulas, que descia
no rumo do atual Portinho. Mas, a frontaria e carrancas ali até hoje existentes
nasceram das mãos do desenhista e das orientações do mestre-de-obras notável, o
pardo-fidalgo José Luiz da Rocha.[1]
Ele era natural de São Luís. Mulato, filho de
um português com uma negra. Desempenhou as atividades de pintor, desenhista,
arquiteto, engenheiro e militar, chegando ao posto de coronel. As suas obras
mais significativas foram: reforma da Fonte das Pedras e construção da Fonte do
Ribeirão.
Mas,
a arte em São Luís só toma impulso, efetivamente, a partir do século XIX. Época
com grande fluxo de viagens entre São Luís e a Europa, de onde vinham
companhias líricas para se apresentarem no Teatro, e também artistas, a maioria
deles apenas com passagens rápidas.
Tais artistas buscam
novos mercados, visto que a maioria enfrentava um mercado saturado, e não
conseguia se estabelecer em seus países pela qualidade razoável de seus
trabalhos, ou também por, normalmente, não estarem adaptados aos novos estilos
e padrões da arte oitocentista europeia;
Também contribuía para a
vinda deles, o fato de São Luís e outras cidades brasileiras como Rio de Janeiro,
Recife e Salvador possuírem um crescente mercado consumidor ansioso por copiar
hábitos e costumes europeus, principalmente a partir da chegada da família real
portuguesa ao Brasil em 1808.
Por São Luís também passaram
as chamadas expedições científicas e missões artísticas, das quais normalmente
faziam parte, artistas com finalidade de fazerem os registros visuais das
pesquisas.
[1] Coutinho, Milson. Fidalgos
e barões: uma história da nobiliarquia luso-maranhense. São Luís: Instituto
Geia, 2005, p. 171.
AS ARTES VISUAIS EM SÃO LUÍS: Parte I – a produção tupinambá
Os primeiros artistas[1]
de São Luís foram os Tupinambás, autores de produções em cerâmica, pintura
corporal, plumária, música, trançados, tecelagem e algumas outras expressões
artísticas. Essas produções de natureza estética, funcional e simbólica
pertenciam aos seus universos naturais e sobrenaturais.
Uma arte bastante
desenvolvida pelos tupinambás era a plumária, confeccionada e usada,
principalmente, pelos homens nos momentos festivos: dias de cauim, matança de
inimigos, partida para a guerra, furação de lábio de crianças, e demais eventos
solenes.
Os adornos plumários eram
produzidos com diversas penas coloridas organizadas de maneira simétrica, e
tecidos na parte interna com fios de algodão, semelhante à trama de uma rede de
pescar. O mais belo desses adornos era o Assoiave [Açoiába], produzidos com
penas de guará e algumas outras. Possivelmente, era utilizado somente em
momentos festivos e solenes.
Bem expressivas também
eram as suas pinturas corporais, executadas pelas mulheres sobre si e também
sobre os demais indivíduos tupinambás. Pintam o rosto e o corpo, na convicção
de se embelezarem. “Trazem alguns a face rajada de vermelho e negro; outros
pintam apenas uma metade do corpo e do rosto e deixam a outra metade com sua
côr natural.”[2]
Outros pintam “o corpo
inteiro de figuras, da cabeça aos joelhos e assim ficam como se estivessem
vestidos com uma roupa de Pantalon, de cetim prêto estampado. Quanto às mãos e
às pernas, pintam-nas com o suco do genipapo.”[3]
Mas, “nem sempre andam pintados, e
sim quando querem, e uns mais que os outros, e principalmente as raparigas mais
do que todos.”[4] Era
portanto uma arte que caracterizava momentos específicos e também indivíduos
por sexo e idade.
Um dos momentos mais
significativos para os Tupinambás “exibirem” a sua arte eram guerras, para as
quais, eles assim se adornavam:
Para a cabeça
usam de uma peruca ou cabeleira de penas de cores vermelhas, amarelas,
verde-gaio e violetas, que prendem aos cabelos com uma espécie de cola ou
grude.
Enfeitam a
testa com grandes penas de araras e outros pássaros semelhantes, de cores
variadas e dispostas à maneira de mitra, que amarram atrás da cabeça. Nos
braços atam braceletes também de penas de diversas cores, tecidas com fio de
algodão, semelhante à mitra de que acabamos de falar. [5]
Colocavam
na altura dos rins outro adorno plumário, o qual formava “uma roda de penas de
cauda de ema presa por dois fios de algodão tintos de vermelho, cruzando-se
pelos ombros [...], de sorte que aos vê-los emplumados, dir-se-ia que são emas
que só tem penas nestas três partes do corpo”.[6]
[1] Esse termo não é aqui utilizado como categoria
profissional, e sim para se referir a qualquer indivíduo que produza objetos
estéticos para os mais diversos momentos e finalidades.
[2] D’ABBEVILLE, Claude. História da missão dos padres capuchinhos
na ilha do Maranhão. São Paulo:
Siciliano, 2002, p. 262.
[3] Id.Ibid., p. 262.
[4] Id. Ibid., p 262.
[5] D’EVREUX, Yves. Viagem
ao norte do Brasil: feita nos anos de 1613 a 1614; com colaboração
de Ferdinand Denis; traduzida por César Augusto Marques. São Paulo: Siciliano,
2002, p. 78.
[6] Id. Ibid., p. 79.
sábado, 4 de maio de 2013
O livro “CIDADE E
A MEMÓRIA: AS REPRESENTAÇÕES ARTÍSTICAS FORMANDO A IDENTIDADE LUDOVICENSE”, de
autoria de Raimunda Fortes e João Carlos Pimentel Cantanhede, analisa o olhar
artístico sobre a cidade de São Luís ao longo da sua história.
Nele, os autores discorrem sobre a relação
arte e cidade, nos aspectos urbanos, sociais e naturais tomando como registro
de memória e identidade as produções literárias e artísticas. Autores como Spix
e Martius, Gaioso e Koster são tomados como produtores de imagens literárias de
São Luís.
As
obras visuais escolhidas são representativas de fatos e épocas distintas da
história de São Luís, partindo do século XVII: Fundação da Cidade, vistas panorâmicas
e cartografia da cidade e de seus arredores; passando pelo século XIX com obras
caracterizando os costumes da cidade, a natureza e a arquitetura.
Dos
séculos XX e XXI, as obras abordadas pelos autores no livro mostram novos
olhares sobre a cidade por meio de produções contemporâneas como objetos e instalações, somados a painéis azulejares,
pinturas e fotografia.
Desse modo Raimunda Fortes e
João Carlos revisitam a história da São Luís através das produções artísticas e
literárias e se utilizam de fotografias recentes dos locais representados nas
obras, propiciando ao leitor uma oportunidade de comparar o ontem e o hoje da cidade
e contribuindo para despertar novos olhares e novas formas de se pensar a arte
e a cidade.
O prefácio do livro foi
escrito pelo Prof. Dr. José Henrique
de Paula Borralho - Departamento de História da UEMA; e as fotografias são de
autoria do Prof. Dr. Audalio Rebelo Torres Junior - Departamento de Oceanografia da UFMA.
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